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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Novo capitalismo, sim; socialismo, não

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Longe de mim os radicais do Occupy que pregam o fim do capitalismo, mas em algo o movimento tem razão: é premente uma atualização do capitalismo.

Assim como nas marchas brasileiras contra a corrupção, os líderes do Occupy ainda estão escondidos, mas chegará a hora em que mostrarão suas caras, provavelmente travestidos de salvadores da pátria. Na Itália, protestos terminaram em violência e as lideranças já foram identificadas como partidários da extrema esquerda, o que leva à constatação do que antes era desconfiança global. Enquanto isso não ocorre por aqui e em Nova Iorque, façamos nossos movimentos, mas sempre de olho no gato.

“You may say i’m a dreamer”, copio John Lenon, mas se é para sonhar, que se sonhe alto. Pensemos como advogado que pede indenização para seu cliente: peçamos alto, bem mais alto do que sabemos que podemos conseguir, assim podemos chegar aonde queremos.

Reestruturar o capitalismo começaria reduzindo a especulação e para reduzir a especulação, começa-se dando uma sacudida geral nas bolsas de valores e no tráfego de dinheiro entre os países.

A cada mês o governo brasileiro, para usar como exemplo uma realidade ao lado da nossa casa, comemora o recorde da entrada de dólares. E de onde vem essa montanha de dinheiro? Estamos exportando tanto assim? E mais, com superávit tão alto em relação às importações a ponto da balança comercial ser sempre em nosso favor? Em parte, sim, mas um enorme naco dessa dinheirama é especulativa e virtual.

Com a Vale valorizando-se, passando a ser o maior exportador do país, embora esteja mandando commodities, é de se esperar que quem tenha dinheiro sobrando lá fora, jogue para cá num toque de botão. Não há dinheiro real. Este dinheiro leva um tempo para ser enviado em espécie, mas fica valendo o contrato feito por meio dos operadores da bolsa. Ao comprar ações, o investidor passa a ser sócio da empresa e tem direito a parte de seus lucros. Mas isso serve apenas para os pequenos investidores e para os enormes, aqueles que desejam deveras serem donos da Vale. Os médios são especuladores. No primeiro espirro do presidente da empresa, os especuladores correm como pombos que veem gato. Esta é a razão da existência das bolsas de valores.

A dona de casa ou o assalariado brasileiro quando têm uma graninha sobrando, guarda-o na caderneta de poupança e fica sonhando com as férias de dezembro, o carro novo ou a reforma da casa. Nos Estados Unidos eles investem em ações e fazem seu pé de meia de olha na universidade dos filhos ou na aposentadoria tranqüila. Estes são, de fato, os acionistas. Em troca, recebem parte dos dividendos, feito o balanço anual da sociedade anônima.

A bolha e a injustiça nesse sistema está no fato dos executivos, muitos deles jamais possuidores de ações da companhia que dirigem, receberem gratificações de seis ou sete dígitos ao final do ano. Muito justo que quem faz bom trabalho receba boas remunerações, a isto chama-se meritocracia, mas não é justo que estes executivos recebam dividendos absurdamente maiores do que aqueles que colocam sua poupança numa empresa por toda a vida. É mais ou menos como o que vemos na Saúde brasileira. O cidadão paga uma vida parte de seu salário para ter direito a atendimento “gratuito” no Sistema Único de Saúde, enquanto que os gestores do Sistema podem contar com o serviço cinco estrelas dos grandes hospitais particulares, também pagos com os impostos recolhidos do trabalhadorzinho que grama nos corredores do SUS.

Fui desavisado a falar no dito “apartheid” econômico que sofre a África, como se isso fosse fato novo. O termo apartheid voltou à voga, assim como “demanda”, repetida exaustivamente por jogadores de futebol, socialistas, CEO de grandes corporações e politicozinhos e zões mundo a fora.

Na reestruturação mundial pós-segunda guerra mundial, o globo foi loteado: A Europa ficava com os automóveis, os Estados Unidos ficavam com as tecnologias de ponta e a Ásia capitalista com a manufatura barata dos equipamentos exportados pelos americanos. Com o avanço da tecnologia das comunicações, o norte da Europa ficou com a telefonia, bancos interligaram-se e o tráfego de dinheiro, comandado pela Inglaterra e a Suíça, popularizou o cartão de crédito.

Todos estabelecidos, cada macaco no seu galho, a Volkswagen e a Fiat terceirizaram suas plantas para o submundo, Brasil e México, os Estados Unidos ocuparam Brasil, Argentina e Índia com a produção dos alimentos que suas multinacionais encarregaram-se de espalhar pelo mundo. Quem tinha o capital comandava o mercado, e ainda comanda. A África, com um déficit catastrófico de educação ficou como reserva. Além de diamantes e petróleo, o que mais o continente tinha a oferecer?

No governo anterior, Lula saiu pelo mundo, contraditoriamente como é seu caráter camaleônico, espalhando que o biocombustível brasileiro seria a nova fronteira mundial, mas que também éramos autossuficientes em petróleo e havíamos descoberto a maior reserva mundial de petróleo na camada submarinha do préssal. O primeiro a levantar-se protestando contra o biocombustível foi seu amiguinho de cama e mesa, Hugo Chávez.

Gastando o que tinha e o que não tinha em armamentos para a manutenção de seu status de líder supremo e eterno, a reencarnação de Deus, Chávez protestou bravamente. Se o etanol brasileiro emplaca no mundo, quem cobraria o petróleo venezuelano?

Na carona do discurso de Lula, países africanos também partiram para a produção de etanol. Se não me enganaram meus professores de química, qualquer vegetal pode ser matéria prima de alcoóis, uns mais, outros menos; uns mais baratos que outros; uns em maior octanagem do que outros. A Costa do Marfim explora o coco.

O contrário também valeu. Se o Brasil freou o ímpeto em ser a nova matriz de combustíveis e energia para satisfazer o desejo de Chávez e todas as outras corporações que, muito provavelmente, fizeram pressão para que Lula deixasse de lado esses sonhos megalômanos, mas possíveis, os países africanos ficaram sem pai nem mãe no processo. Sem o aval de quem tem o capital, a África não anda. A coisa piorou agora que está todo mundo, a começar pelos ricos, a contar as “nicas” que lhes restaram nos bolsos. Se não estão conseguindo tirar os próprios pés da lama, mesmo porque dentro de seus próprios países há quem esteja ganhando tanto dinheiro com a crise que faz de tudo para que ela não acabe, como esperar que socorram os paupérrimos sul-equatorianos, como África, Haiti e circundantes?

Reformar o capitalismo, o que seria de muito bom alvitre, não significa destruí-lo, como pregam os mais exaltados porta-vozes das manifestações dos insatisfeitos mundiais. Reformar o capitalismo adoecido e velho não é ressuscitar o mal cheiroso comunismo que envelheceu, apodreceu e se corrompeu primeiro.

 

©Marcos Pontes

3 comentários:

  1. Os socialistas de plantão, vêem a pujança da República "Democrática" da China, e se esquecem de observar duas coisas importantes:

    1º Lá a mão de obra abundante substitui a tecnologia para produção em massa, ou seja não tem os custos de investimentos necessários a competitividade de outros países, além claro de pagarem salários tã baixos, que se torna quase trabalho escravo.

    2º O sucesso econômico da China esta baseado dentro da "filosofia" capitalista de ganhos de capital, produção e demanda, etc. Logo, se o capitalismo se aplica a RDC, e funciona, é hiprocrisia, achar que o modelo socilista funciona, aliás nunca funcionou.

    Estou com o amigo, o capitalismo precisa ser melhorado, já se tem experiências de sobra para fazê-lo, essa permissividade do Ganho privatizado e do prejuízo socializado, precisa mesmo ser mudado, afinal não é justo, que os que não ganharam, paguem pelos que ganharam.

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  2. A "crise" do capitalismo se dá tão somente por conta da extrema intervenção do estado nele. Só por isso.

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  3. Caro Marcos Pontes,
    Bato nesta tecla constantemente.Sou fã do capitalismo e tenho certeza de que este regime sanificado será o mais justo para todos.Aqui no Brasil é necessário urgentemente extirparmos a ditadura dos sindicatos, regulamentar as leis trabalhistas adequando-as aos micros´,pequenos e médios empreendedores, diferenciando-as para os grandes empreendedores pois do jeito que esta,a carga tributária que incide sobre estas empresas e os encargos trabalhistas estão tirando o ânimo de quem quer produzir neste país.Principalmente o pequeno empreendedor.O Socialismo é ótimo até que acabe o dinheiro dos outros.
    Um grande abraço

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