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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Decálogo para ser bom professor

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Para ser um mau ou bom professor não há regras, basta sê-lo. Não há também receita para ser o melhor professor uma vez que vários critérios seriam subjetivos e cada “julgador” da atividade docente faria a avaliação que lhe conviesse.

Algumas regras, porém, são básicas para que um professor seja considerado bom, acima da média, e dessas, ouso dizer que aprendi ou assimilei empiricamente. Vejamos:

1. Conheça o conteúdo que vai ministrar. Nesse mister não há diferença entre o professor ou qualquer outro profissional. Imediatamente qualquer leigo identifica um mau motorista, um mau advogado, um mau pedreiro, um mau oftalmologista e, óbvio, um mau professor. Com pouco tempo de observação o aluno diferencia o professor tímido do inseguro e a insegurança, via de regra, advém da ignorância. Não precisa ser sábio, mas, indiscutivelmente, estudiodo.

2. Seja claro. Despejar o conteúdo para o aluno, por mais que se tenha domínio sobre ele, o conteúdo, pode demonstrar domínio da matéria, mas não faz do professor um bom professor. É primordial que o aluno saiba onde você quer que ele chegue, o que você deseja que ele assimile daquilo que está sendo exposto, seja por palestra, desenhos, gráficos ou textos. Ao saber o que se espera dele, o foco do aprendizado fica definido, diminuindo a insegurança e a dispersão.

3. Vá e volte quantas vezes forem necessárias. Cada discente tem seu ritmo e um excelente aluno de uma área não será, necessariamente, excelente em outra. Se na primeira explicação algum aluno não entendeu, reexplique, mas com o cuidado de não reexplicar com as mesmas palavras e os mesmos exemplos. Diversifique as fontes, faça analogias diferentes, procure outros caminhos até conseguir transportar o máximo possível da classe ao ponto onde deseja que ela chegue.

4. Conheça seus alunos. Se você é mais bem recebido num restaurante ou no posto de gasolina quando trata seu atendente pelo nome, assim também será em sala de aula. Ao tratar o aluno pelo nome, ele sentirá intimamente que você se importa com ele, que diferencia-o dos demais, não sente-se apenas mais um na multidão. Não se furte em investir alguns minutos, dentro ou fora da sala, a saber dos gostos, dos problemas, dos hobbies de seus alunos. Não há necessidade de se esforçar para isso, basta abrir-se para o contato. Isso o ajudará no item 3, quando precisar usar analogias para se fazer entender, poderá fazê-lo com exemplos que sejam palpáveis para aquele aluno. Se ele é ciclista, se gosta de cinema noir, se lê O Senhor dos Anéis, se prefere montanha a praia, qualquer coisa mais íntima dele pode ajudar o professor a se fazer entender. As redes sociais estão aí, monte um perfil exclusivamente para contatar seus alunos, famílias e colegas, se não quiser expor-se completamente.

5. Seja amistoso, mas não amigo. Você não é um deles, não é coleguinha, não é amigo, não é da patota, você é a autoridade, é o exemplo, a referência. Abra-se para o contato, mas não para a intimidade. Se portar-se como um deles, como um deles será tratado. Por mais rebelde que um jovem possa ser, intimamente ele sabe e deseja um adulto para discipliná-lo, orientá-lo, elogiá-lo ou castigá-lo. E não me venham com essa que castigo não educa. Esse “modernismo” não funciona em casa e nem na escola. Estudos da Universidade de Oxford constataram que os jovens querem ser disciplinados e olha que isso foi feito na terra do nascimento do punk e famosa por seus adolescentes rebeldes. Sei que aqui falta fonte, mas quem tiver interesse pode pesquisar, e isto me leva ao item 6.

6. Não dê respostas mastigadas, incentive a pesquisa. Acabou-se o tempo em que filhos tinham que arrumar o quarto, ajudar a lavar e secar a louça, lavar os próprios tênis, ir à mercearia comprar pães e ovos. De uns tempos para cá eles vêm sendo educados como incapazes de resolverem seus problemas. Pior, a escola tem ajudado nesse conformismo. Por comodismo, preguiça ou despreparo, não raramente encontramos professores que só fazem perguntas com respostas fáceis ou óbvias. Para esses “dadores de aula”, trabalhar cansa; para seus alunos, consequentemente, pensar dói. Pesquisar, então, paradoxalmente ficou mais difícil com a facilidade de fontes à disposição dos estudantes. Pesquisar significa acessar o Google, citar uma palavra chave qualquer e copiar o primeiro link que surgir. Tenho até um exemplo concreto a citar. Num trabalho prático sobre magnetismo (física) os alunos procuraram frases sobre o tema para decorarem o stand da equipe. Estava lá estampado em letras garrafais: “O magnetismo é um fenômeno da vida, por constituir manifestação natural em todos os seres. Chico Xavier”.

7. Dê o exemplo. Não tem cabimento na educação o “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Aliás, não tem cabimento em lugar algum. O professor tem que ser o melhor cidadão que possa ser – cito o professor porque é a ele que me dirijo, mas esse é dever de qualquer um – e agir, sem a necessidade de ufanar-se de sua correção. Não fure a fila do lanche; não use o celular em sala de aula; não mate aula sem justificativa; seja assíduo; cumpra aquilo que promete; admita os erros que cometer e os corrija, humildemente; não ganhe uma discussão com gritaria, mas com argumentos. Você perceberá que está fazendo certo quando os próprios alunos compararem seu comportamento com o de outro professor que não está. Isso parece cruel e cínico? Pois não é, é fato. Sempre aparecerá no quadro docente de sua escola um espírito de porco que se enlameará e elevará você ao pódio do bom exemplo. Não se esforce, apenas aja, não se gabe, todos notarão.

8. Não seja bonzinho. Alunos não querem professores bonzinhos, mas professores seguros e bons. Quando o professor é bom, pode ser exigente que será respeitado. O bonzinho, o professor vaselina, não tem respeito, tem afagos tão hipócritas quanto sua própria “bondade”. Pergunte a si, quais os professores de quem você tem melhores recordações, do bonzinho, amiguinho, que adorava dar notas altas a torto e a direito ou que ensinava com afinco, cobrava, mas era...

9. ... justo. Seja criterioso e não diferencie os alunos em suas avaliações. Esses critérios devem ser claros e que não nivelem o alunado por baixo, mas que também não exijam deles o que eles estão aquém da capacidade de oferecer. Seja exigente na medida certa, nem frouxo nem por demais apertado. O peso das exigências não será encontrado em livros ou em conselhos de teóricos, mas em seu próprio bom senso, na troca de informações com os colegas, empiricamente e levando-se em conta, sempre, a heterogeneidade de suas classes e a realidade da localidade em que sua escola está inserida. Nunca descuide-se da obrigação profissional de fazer que uma geração seja sempre melhor do que a anterior, é assim que faz-se a evolução e não repetindo, confortavelmente, os acertos.

10. Mantenha-se informado. Gengis Khan já sabia que quem detém a informação, detém o poder. Não é o poder que interessa ao professor, mas tem que preparar-se para formar líderes e líderes são feitos, essencialmente, pelo cabedal de informações que eles têm. E que diabos são informações? Todo e qualquer conhecimento é informação e o professor, mesmo que não saiba as respostas a todas as perguntas, e não há esse gênio que saiba, tem que estar preparado para indicar ao estudante onde ele possa obter a solução para seus questionamentos. Tem que ter o mínimo de informações para ao menos saber de que se trata o tema do questionamento. Não interessa se é professor de cálculo, ciências humanas, biológicas ou tecnológicas, é obrigação sine qua non do professor manter-se informado, seja por jornais, revistas, sites confiáveis... Ele tem que saber o que ocorre no mundo.

Pode-se ser excelente professor sem seguir os dez itens acima, mas, em minha paupérrima opinião, é impossível ser um bom professor sem seguir ao menos seis deles.

©Marcos Pontes

domingo, 13 de outubro de 2013

Três Brasis, três educações

sala de aula

Melhorar a educação nacional não se faz por apenas um caminho, como se fazer uma escola não basta um prédio, carteiras, quadro negro e um abnegado a dar aulas. Por outro lado, para melhorar a educação não são necessários tantos teóricos, modismos, correntes filosóficas e ideológicas.

Educação e escola não são uma só coisa, a segunda é um pedaço da primeira.

Educação e instrução também não são a mesma coisa e nem são, cada uma, uma só coisa. Não há só uma educação e apenas uma instrução.

Alguns ditados são repetidos todos os dias, porém nem sempre são compreendidos por não se ter questionamentos pessoais sobre os conceitos que esses ditados abrangem. Por exemplo “educação vem do berço”. O pobres coitados que têm terreno baldio separando as igrejas podem interpretar berço como a caminha do bebê e educação como inteligência, ou seja, quem é gênio o é desde bebê.

Educação que vem do berço é o conjunto de princípios transmitidos pela família desde a primeira infância, o que leva à fácil constatação que existem boa e má educação. Daí também vem a falta de princípios hereditária. Pais mal educados não podem ter bons princípios para transmitir aos filhos. Famílias desagregadas têm apenas metade dos princípios a ser transmitida à prole.

Educação cabe à família, em primeira instância, assim também a instrução. Esta pode ser traduzida em cultura, erudição, conjunto de conhecimentos. Qualquer leitura contém algo de instrução. Não precisa jogar nos peitos de uma criança recém alfabetizada A Divina Comédia ou Os Lusíadas, mas o prazer pela leitura é um bom início. Este prazer vem do exemplo. Se pais leem e conversam sobre o que leram, os filhos tenderão a fazer o mesmo. Aprende-se muito mais lendo do que nos bancos de escola se a leitura é feita por deleite e não por obrigação.

Tudo o que tem nos livros didáticos é dito pelos professores em sala de aula, mas nem tudo o que os professores dizem está nos livros. Os dois se complementam, portanto.

A criança pode adorar tomar banho, mas quando os pais começam a obrigá-lo a banhar-se, hummm, o prazer vai-se embora, o banho parece castigo. Assim com os livros, jornais e revistas.

Algo de novo até aqui? Não creio. Os poucos que me leem de vez em quando são inteligentes e devem estar bocejando com meus lugares-comuns. Vamos então cavucar um pouco mais essa ferida nacional.

Por que algumas escolas formam alunos que ganham olimpíadas internacionais de matemática e física, levam gente para grandes cursos em universidades de renome no exterior, como Harvard, Oxford ou à socialista Sorbonne, ao mesmo tempo em que no todo a qualidade, ou falta de, da educação brasileira está sempre próxima da ponta de baixo dos rankings internacionais? A primeira resposta é simples: porque existem ao menos três Brasis.

Há um Brasil conteudista que segue as escolas tradicionais como foi um dia a Dom Pedro II, do Rio, os Colégios Militares – não umas coisinhas que levam esse nome, mas nada têm a ver com as Forças Armadas – e alguns tantos espalhados nos mais diversos recantos do país, do Piauí ao Rio Grande do Sul. Escolas tão poucas e tão raras de que o brasileiro comum jamais ouviu falar. Não coincidentemente, NENHUMA das 60 melhores é estadual – as públicas colocadas entre essas, são federais. Das 100 melhores, 90 são privadas. Esta avaliação pelo ENEM, uma avaliação pública. Existem outras, como ENADE e Prova Brasil, mas nem são levadas em consideração pelas escola particulares, seja pela baixa exigência das questões, seja pelos critérios de classificação. Por terem plena consciência que as escolas públicas são muito ruins e sem perspectiva de melhora que os executivos da educação pública criaram, por exemplo, olimpíadas de português e matemática apenas para escolas públicas com provas elaboradas pelos mesmos organismos que elaboram e aplicam as olimpíadas abertas há mais de duas décadas. E por que isso? Para nivelar por baixo e dar prêmios à guisa de incentivo para os melhores estudantes entre as piores escolas.

Há um Brasil de faz de conta. A velha história criada não sei por quem (Millôr?) que diz que em nossa educação os professores fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem e as governos fingem que estão satisfeitos. E nesse círculo da fantasia não estão apenas escolas públicas. Há uma enormidade de “métodos de ensino” Brasil a dentro que são fábricas de dinheiro par as empresas que os vendem a escolas “conveniadas”. Não entenda-se que todo o sistema de apostilas ou módulos é ruim. Existem alguns bons, muitos razoáveis e um tanto sem a mínima condição de serem classificados como livros didáticos.

Há dois anos tive em mãos uma apostila de geografia do primeiro ano do ensino médio com mapas da União Soviética atualizados. Piores que as empresas que vendem são os colégios que compram esses crimes encadernados e os empurram a pais ignorantes.

Esse Brasil de faz de conta é regido por pedagogos, cientistas políticos, psicólogos e falsos educadores – aliás, desconfie sempre de um professor que se autodenomina “educador”. Este tipo de profissional sequer questiona-se sobre a origem e o propósito dessa nova classificação profissional. Pegando carona na metodologia do momento como “escola nova”, “construtivismo” e sabe-se lá quantos outros modismos, esses ideólogos da educação montam empresas de consultoria, contratam lobistas, pagam escritores, promovem cursos, seminários, simpósios, corrompem uns aqui, outros ali e fazem fortunas vendendo livros para governos e escolinhas particulares de ponta de rua, como se dizia na Bahia. O resultado? Necessidade de baixar o nível educacional nacional para esconder as pontas puídas deixadas à mostra pela incompetência e pela corrupção.

Existe um Brasil do tô nem aí. O Brasil dos municípios, das prefeituras geridas por espertalhões que nomeiam ignóbeis educadores como secretários de educação e cultura (não poucas vezes também de esporte e lazer), alugam casas de amigos, pintam suas paredes com um quadro preto, enchem o que antes era quarto de dormir com carteiras e colocam uns desesperados por ganha-pão para darem aulas. Denominam esses antros escolas. Este Brasil do tô nem aí é enorme, espalha-se por todos os estados,alimenta um exército de despreparados e deseduca uma multidão de inocentes úteis. Este é o Brasil que mais compromete o Brasilzão. É o Brasil que vive de migalhas e deixa o glacê do bolo para os que fazem da educação discurso e não meta ou prioridade.

Nessa heterogeneidade de Brasis, o primeiro continua e continuará por muito tempo formando comandantes, governantes, capitães de empresas, governadores e presidentes (se não forem reles sindicalistas). Ao segundo Brasil estão reservados os cargos subalternos, os pequenos gerentes, os fiscais de linhas de montagem, os mestres de obras. O terceiro Brasil formará a base social acima apenas daqueles que não tiveram sequer as escolas de faz de conta, os pedreiros, os pintores de meio-fio, os vendedores de botequim.

O estrato social é determinado pela educação que se dá às suas bases e não aos capitalistas louros de olhos azuis.

©Marcos Pontes

sábado, 12 de outubro de 2013

Professores de “dadores” de aula

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No meu currículo constam 25 anos de regência de classe. Me orgulho por não ter-me tornado um burocrático “dador de aulas” e nem um “educador”, quase um neologismo criado pelos revolucionários em ascensão como forma de destruir as instituições, entre elas a escola (ambiente em que muitos deles, os revolucionários, se sentiram desconfortáveis por serem inimigos do conhecimento). Sou professor e disso me orgulho.

Mas não sou eu o propósito desse texto, o introdutório foi apenas para deixar claro que não sou apenas um curioso, um “achador”, um teórico ou apenas um “pedagólatra “ e que o tema educação não me é um mote de campanha eleitoral obrigatório, dado que jamais fui candidato a qualquer coisa e nem tenho esse propósito.

No decorrer desses últimos 25 anos, além da regência de classe, exerci também a função de coordenador de projetos da secretaria municipal de educação e hoje sou membro do Conselho Municipal de Educação.

Nessa última função, a cada reunião tenho problemas com os representantes do sindicato dos professores. Eles devem ver-me como um reacionário, conservador e escravocrata. Não sou escravocrata. Do meu lado, os vejo como imbecis que teimam em reivindicar salários, melhoria das condições de trabalho, salário, redução da carga horária, salários, aumento de salários, adicionais disso e daquilo, salário, transporte, salário... Em nenhum momento propõem suspensão para professores faltosos com assiduidade, premiação por produtividade, promoção por mérito, avaliação anual dos docentes e afastamento para recapacitação daqueles reprovados dois anos seguidos, fim da vitaliciedade do cargo, vacinação em massa do corpo docente do município, do estado, da união ou de estabelecimentos particulares contra gripe (principal motivo alegado para faltas).

Não vejo também secretários e prefeitos (sem falar em parlamentares e governadores), em todos esses anos, tomarem medidas que possam ser antipatizadas pelos professores, mas que a médio e longo prazo poderiam fazer do Brasil um país trilhando o caminho correto da boa educação. Por ser, nos estados e municípios, a função que ocupa o maior número de eleitores (no meu município, a exemplo do que ocorre em muitos outros do país, professores ocupam quase 30% da folha de pagamento), governantes preferem se deixar acuar pelos sindicatos do que dar respostas positivas para o alunado e suas famílias.

Mas essa politização da educação não se dá apenas em municípios, também nos estados e união. E em escala crescente. Via de regra, as prefeituras empregam professores com menos títulos de especialização, mestrado e doutorado. Este número é um tanto maior nos estados e diversas vezes maior nos institutos e universidades federais. Aliás, se me permitem parênteses, não são poucos os professores “federais” que ganham a vida estudando, adquirindo títulos para ascenderem profissionalmente e melhorarem seus salários que raramente têm tempo para dar aulas. Em alguns casos, o corpo discente é apenas um empecilho para suas carreiras.

Voltando. Quanto mais tempo de estudo, mais politizados se tornam os docentes. Quanto mais politizados, mais argumentos e estratégias têm para sequestrarem os governantes. Mais se sindicalizam, se reúnem em seminários, colóquios e que tais. Quando é de seus interesses se reúnem e dão apoio a estudantes e funcionários em suas respectivas greves e ganham força para conseguirem mais e mais vantagens sem a necessidade proporcional de devolverem em qualidade em suas funções. Nessa republiqueta sindical, educação é tema obrigatório em palanques e artigo em falta no cotidiano.

Grade curricular cada vez menos exigente; livros didáticos a caminho da anorexia; avaliações meia-boca para estudantes; avaliação dos docentes inexistente ou pífia; cotas para negros, índios, deficientes e até mesmo para filhos de funcionários de institutos federais, como forma de “incluir” os menos favorecidos, mas que apenas adiam a necessidade de requalificar profissionais, reequipar escolas públicas, dotar os estudantes de escolas públicas com condições de competir em igualdade de condições com os formados em boas escolas privadas.

Costumo citar o Ícaro Luís Vidal, primeiro negro cotista a concluir o curso de medicina na UFBA, amplamente noticiado em 2012. Não diminuo seus méritos, pelo contrário, é digno de elogios, mas a questão que jamais vi alguém fazer é: onde foram parar os outros 19 cotistas que entraram junto com o Ícaro, em 2005? Ficaram pelo caminho por não terem base científica? Foram jubilados? Mudaram de curso? Desistiram por não terem condições financeiras de bancar o material do curso, que, mesmo sendo numa instituição pública, não é barato (livros, cursos, seminários, maleta médica...)?

A discussão é longa, mas algumas medidas, se houvesse governante com coragem para tomá-las, mudariam a cara do Brasil e entre elas repito as que citei lá em cima. Acrescentaria: plano de demissão voluntária para aqueles que estão cansados de dar aulas, desestimulados e que, por isso ou além disso condenam gerações a serem vítimas de educação de má qualidade que é o mesmo que falta de educação.

Para os professores, meus parabéns pela seriedade com que encaram seu sacerdócio, pela preocupação com as gerações futuras, pela abnegação, pelo bom exemplo, pela crença que não se faz futuro sólido sem educação de boa qualidade. Aos “dadores” de aulas, um conselho: mudem de profissão, assim estarão fazendo um grande bem aos jovens, aos futuros filhos desses jovens, aos filhos desses filhos... numa progressão geométrica ad infinitum.

Educação é investimento a longo prazo. É como uma árvore que demora a dar frutos. Planta-se hoje, mas o fruto só nascerá daqui a quinze, dezoito anos.

Bom professor é aquele que não sonega conhecimento, faz questão de passar adiante tudo o que sabe. Mas para ser deveras um grande professor, tem que ter muito conhecimento ou o tudo que passará adiante será muito pouco.

©Marcos Pontes