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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Decálogo para ser bom professor

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Para ser um mau ou bom professor não há regras, basta sê-lo. Não há também receita para ser o melhor professor uma vez que vários critérios seriam subjetivos e cada “julgador” da atividade docente faria a avaliação que lhe conviesse.

Algumas regras, porém, são básicas para que um professor seja considerado bom, acima da média, e dessas, ouso dizer que aprendi ou assimilei empiricamente. Vejamos:

1. Conheça o conteúdo que vai ministrar. Nesse mister não há diferença entre o professor ou qualquer outro profissional. Imediatamente qualquer leigo identifica um mau motorista, um mau advogado, um mau pedreiro, um mau oftalmologista e, óbvio, um mau professor. Com pouco tempo de observação o aluno diferencia o professor tímido do inseguro e a insegurança, via de regra, advém da ignorância. Não precisa ser sábio, mas, indiscutivelmente, estudiodo.

2. Seja claro. Despejar o conteúdo para o aluno, por mais que se tenha domínio sobre ele, o conteúdo, pode demonstrar domínio da matéria, mas não faz do professor um bom professor. É primordial que o aluno saiba onde você quer que ele chegue, o que você deseja que ele assimile daquilo que está sendo exposto, seja por palestra, desenhos, gráficos ou textos. Ao saber o que se espera dele, o foco do aprendizado fica definido, diminuindo a insegurança e a dispersão.

3. Vá e volte quantas vezes forem necessárias. Cada discente tem seu ritmo e um excelente aluno de uma área não será, necessariamente, excelente em outra. Se na primeira explicação algum aluno não entendeu, reexplique, mas com o cuidado de não reexplicar com as mesmas palavras e os mesmos exemplos. Diversifique as fontes, faça analogias diferentes, procure outros caminhos até conseguir transportar o máximo possível da classe ao ponto onde deseja que ela chegue.

4. Conheça seus alunos. Se você é mais bem recebido num restaurante ou no posto de gasolina quando trata seu atendente pelo nome, assim também será em sala de aula. Ao tratar o aluno pelo nome, ele sentirá intimamente que você se importa com ele, que diferencia-o dos demais, não sente-se apenas mais um na multidão. Não se furte em investir alguns minutos, dentro ou fora da sala, a saber dos gostos, dos problemas, dos hobbies de seus alunos. Não há necessidade de se esforçar para isso, basta abrir-se para o contato. Isso o ajudará no item 3, quando precisar usar analogias para se fazer entender, poderá fazê-lo com exemplos que sejam palpáveis para aquele aluno. Se ele é ciclista, se gosta de cinema noir, se lê O Senhor dos Anéis, se prefere montanha a praia, qualquer coisa mais íntima dele pode ajudar o professor a se fazer entender. As redes sociais estão aí, monte um perfil exclusivamente para contatar seus alunos, famílias e colegas, se não quiser expor-se completamente.

5. Seja amistoso, mas não amigo. Você não é um deles, não é coleguinha, não é amigo, não é da patota, você é a autoridade, é o exemplo, a referência. Abra-se para o contato, mas não para a intimidade. Se portar-se como um deles, como um deles será tratado. Por mais rebelde que um jovem possa ser, intimamente ele sabe e deseja um adulto para discipliná-lo, orientá-lo, elogiá-lo ou castigá-lo. E não me venham com essa que castigo não educa. Esse “modernismo” não funciona em casa e nem na escola. Estudos da Universidade de Oxford constataram que os jovens querem ser disciplinados e olha que isso foi feito na terra do nascimento do punk e famosa por seus adolescentes rebeldes. Sei que aqui falta fonte, mas quem tiver interesse pode pesquisar, e isto me leva ao item 6.

6. Não dê respostas mastigadas, incentive a pesquisa. Acabou-se o tempo em que filhos tinham que arrumar o quarto, ajudar a lavar e secar a louça, lavar os próprios tênis, ir à mercearia comprar pães e ovos. De uns tempos para cá eles vêm sendo educados como incapazes de resolverem seus problemas. Pior, a escola tem ajudado nesse conformismo. Por comodismo, preguiça ou despreparo, não raramente encontramos professores que só fazem perguntas com respostas fáceis ou óbvias. Para esses “dadores de aula”, trabalhar cansa; para seus alunos, consequentemente, pensar dói. Pesquisar, então, paradoxalmente ficou mais difícil com a facilidade de fontes à disposição dos estudantes. Pesquisar significa acessar o Google, citar uma palavra chave qualquer e copiar o primeiro link que surgir. Tenho até um exemplo concreto a citar. Num trabalho prático sobre magnetismo (física) os alunos procuraram frases sobre o tema para decorarem o stand da equipe. Estava lá estampado em letras garrafais: “O magnetismo é um fenômeno da vida, por constituir manifestação natural em todos os seres. Chico Xavier”.

7. Dê o exemplo. Não tem cabimento na educação o “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Aliás, não tem cabimento em lugar algum. O professor tem que ser o melhor cidadão que possa ser – cito o professor porque é a ele que me dirijo, mas esse é dever de qualquer um – e agir, sem a necessidade de ufanar-se de sua correção. Não fure a fila do lanche; não use o celular em sala de aula; não mate aula sem justificativa; seja assíduo; cumpra aquilo que promete; admita os erros que cometer e os corrija, humildemente; não ganhe uma discussão com gritaria, mas com argumentos. Você perceberá que está fazendo certo quando os próprios alunos compararem seu comportamento com o de outro professor que não está. Isso parece cruel e cínico? Pois não é, é fato. Sempre aparecerá no quadro docente de sua escola um espírito de porco que se enlameará e elevará você ao pódio do bom exemplo. Não se esforce, apenas aja, não se gabe, todos notarão.

8. Não seja bonzinho. Alunos não querem professores bonzinhos, mas professores seguros e bons. Quando o professor é bom, pode ser exigente que será respeitado. O bonzinho, o professor vaselina, não tem respeito, tem afagos tão hipócritas quanto sua própria “bondade”. Pergunte a si, quais os professores de quem você tem melhores recordações, do bonzinho, amiguinho, que adorava dar notas altas a torto e a direito ou que ensinava com afinco, cobrava, mas era...

9. ... justo. Seja criterioso e não diferencie os alunos em suas avaliações. Esses critérios devem ser claros e que não nivelem o alunado por baixo, mas que também não exijam deles o que eles estão aquém da capacidade de oferecer. Seja exigente na medida certa, nem frouxo nem por demais apertado. O peso das exigências não será encontrado em livros ou em conselhos de teóricos, mas em seu próprio bom senso, na troca de informações com os colegas, empiricamente e levando-se em conta, sempre, a heterogeneidade de suas classes e a realidade da localidade em que sua escola está inserida. Nunca descuide-se da obrigação profissional de fazer que uma geração seja sempre melhor do que a anterior, é assim que faz-se a evolução e não repetindo, confortavelmente, os acertos.

10. Mantenha-se informado. Gengis Khan já sabia que quem detém a informação, detém o poder. Não é o poder que interessa ao professor, mas tem que preparar-se para formar líderes e líderes são feitos, essencialmente, pelo cabedal de informações que eles têm. E que diabos são informações? Todo e qualquer conhecimento é informação e o professor, mesmo que não saiba as respostas a todas as perguntas, e não há esse gênio que saiba, tem que estar preparado para indicar ao estudante onde ele possa obter a solução para seus questionamentos. Tem que ter o mínimo de informações para ao menos saber de que se trata o tema do questionamento. Não interessa se é professor de cálculo, ciências humanas, biológicas ou tecnológicas, é obrigação sine qua non do professor manter-se informado, seja por jornais, revistas, sites confiáveis... Ele tem que saber o que ocorre no mundo.

Pode-se ser excelente professor sem seguir os dez itens acima, mas, em minha paupérrima opinião, é impossível ser um bom professor sem seguir ao menos seis deles.

©Marcos Pontes

domingo, 13 de outubro de 2013

Três Brasis, três educações

sala de aula

Melhorar a educação nacional não se faz por apenas um caminho, como se fazer uma escola não basta um prédio, carteiras, quadro negro e um abnegado a dar aulas. Por outro lado, para melhorar a educação não são necessários tantos teóricos, modismos, correntes filosóficas e ideológicas.

Educação e escola não são uma só coisa, a segunda é um pedaço da primeira.

Educação e instrução também não são a mesma coisa e nem são, cada uma, uma só coisa. Não há só uma educação e apenas uma instrução.

Alguns ditados são repetidos todos os dias, porém nem sempre são compreendidos por não se ter questionamentos pessoais sobre os conceitos que esses ditados abrangem. Por exemplo “educação vem do berço”. O pobres coitados que têm terreno baldio separando as igrejas podem interpretar berço como a caminha do bebê e educação como inteligência, ou seja, quem é gênio o é desde bebê.

Educação que vem do berço é o conjunto de princípios transmitidos pela família desde a primeira infância, o que leva à fácil constatação que existem boa e má educação. Daí também vem a falta de princípios hereditária. Pais mal educados não podem ter bons princípios para transmitir aos filhos. Famílias desagregadas têm apenas metade dos princípios a ser transmitida à prole.

Educação cabe à família, em primeira instância, assim também a instrução. Esta pode ser traduzida em cultura, erudição, conjunto de conhecimentos. Qualquer leitura contém algo de instrução. Não precisa jogar nos peitos de uma criança recém alfabetizada A Divina Comédia ou Os Lusíadas, mas o prazer pela leitura é um bom início. Este prazer vem do exemplo. Se pais leem e conversam sobre o que leram, os filhos tenderão a fazer o mesmo. Aprende-se muito mais lendo do que nos bancos de escola se a leitura é feita por deleite e não por obrigação.

Tudo o que tem nos livros didáticos é dito pelos professores em sala de aula, mas nem tudo o que os professores dizem está nos livros. Os dois se complementam, portanto.

A criança pode adorar tomar banho, mas quando os pais começam a obrigá-lo a banhar-se, hummm, o prazer vai-se embora, o banho parece castigo. Assim com os livros, jornais e revistas.

Algo de novo até aqui? Não creio. Os poucos que me leem de vez em quando são inteligentes e devem estar bocejando com meus lugares-comuns. Vamos então cavucar um pouco mais essa ferida nacional.

Por que algumas escolas formam alunos que ganham olimpíadas internacionais de matemática e física, levam gente para grandes cursos em universidades de renome no exterior, como Harvard, Oxford ou à socialista Sorbonne, ao mesmo tempo em que no todo a qualidade, ou falta de, da educação brasileira está sempre próxima da ponta de baixo dos rankings internacionais? A primeira resposta é simples: porque existem ao menos três Brasis.

Há um Brasil conteudista que segue as escolas tradicionais como foi um dia a Dom Pedro II, do Rio, os Colégios Militares – não umas coisinhas que levam esse nome, mas nada têm a ver com as Forças Armadas – e alguns tantos espalhados nos mais diversos recantos do país, do Piauí ao Rio Grande do Sul. Escolas tão poucas e tão raras de que o brasileiro comum jamais ouviu falar. Não coincidentemente, NENHUMA das 60 melhores é estadual – as públicas colocadas entre essas, são federais. Das 100 melhores, 90 são privadas. Esta avaliação pelo ENEM, uma avaliação pública. Existem outras, como ENADE e Prova Brasil, mas nem são levadas em consideração pelas escola particulares, seja pela baixa exigência das questões, seja pelos critérios de classificação. Por terem plena consciência que as escolas públicas são muito ruins e sem perspectiva de melhora que os executivos da educação pública criaram, por exemplo, olimpíadas de português e matemática apenas para escolas públicas com provas elaboradas pelos mesmos organismos que elaboram e aplicam as olimpíadas abertas há mais de duas décadas. E por que isso? Para nivelar por baixo e dar prêmios à guisa de incentivo para os melhores estudantes entre as piores escolas.

Há um Brasil de faz de conta. A velha história criada não sei por quem (Millôr?) que diz que em nossa educação os professores fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem e as governos fingem que estão satisfeitos. E nesse círculo da fantasia não estão apenas escolas públicas. Há uma enormidade de “métodos de ensino” Brasil a dentro que são fábricas de dinheiro par as empresas que os vendem a escolas “conveniadas”. Não entenda-se que todo o sistema de apostilas ou módulos é ruim. Existem alguns bons, muitos razoáveis e um tanto sem a mínima condição de serem classificados como livros didáticos.

Há dois anos tive em mãos uma apostila de geografia do primeiro ano do ensino médio com mapas da União Soviética atualizados. Piores que as empresas que vendem são os colégios que compram esses crimes encadernados e os empurram a pais ignorantes.

Esse Brasil de faz de conta é regido por pedagogos, cientistas políticos, psicólogos e falsos educadores – aliás, desconfie sempre de um professor que se autodenomina “educador”. Este tipo de profissional sequer questiona-se sobre a origem e o propósito dessa nova classificação profissional. Pegando carona na metodologia do momento como “escola nova”, “construtivismo” e sabe-se lá quantos outros modismos, esses ideólogos da educação montam empresas de consultoria, contratam lobistas, pagam escritores, promovem cursos, seminários, simpósios, corrompem uns aqui, outros ali e fazem fortunas vendendo livros para governos e escolinhas particulares de ponta de rua, como se dizia na Bahia. O resultado? Necessidade de baixar o nível educacional nacional para esconder as pontas puídas deixadas à mostra pela incompetência e pela corrupção.

Existe um Brasil do tô nem aí. O Brasil dos municípios, das prefeituras geridas por espertalhões que nomeiam ignóbeis educadores como secretários de educação e cultura (não poucas vezes também de esporte e lazer), alugam casas de amigos, pintam suas paredes com um quadro preto, enchem o que antes era quarto de dormir com carteiras e colocam uns desesperados por ganha-pão para darem aulas. Denominam esses antros escolas. Este Brasil do tô nem aí é enorme, espalha-se por todos os estados,alimenta um exército de despreparados e deseduca uma multidão de inocentes úteis. Este é o Brasil que mais compromete o Brasilzão. É o Brasil que vive de migalhas e deixa o glacê do bolo para os que fazem da educação discurso e não meta ou prioridade.

Nessa heterogeneidade de Brasis, o primeiro continua e continuará por muito tempo formando comandantes, governantes, capitães de empresas, governadores e presidentes (se não forem reles sindicalistas). Ao segundo Brasil estão reservados os cargos subalternos, os pequenos gerentes, os fiscais de linhas de montagem, os mestres de obras. O terceiro Brasil formará a base social acima apenas daqueles que não tiveram sequer as escolas de faz de conta, os pedreiros, os pintores de meio-fio, os vendedores de botequim.

O estrato social é determinado pela educação que se dá às suas bases e não aos capitalistas louros de olhos azuis.

©Marcos Pontes

sábado, 12 de outubro de 2013

Professores de “dadores” de aula

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No meu currículo constam 25 anos de regência de classe. Me orgulho por não ter-me tornado um burocrático “dador de aulas” e nem um “educador”, quase um neologismo criado pelos revolucionários em ascensão como forma de destruir as instituições, entre elas a escola (ambiente em que muitos deles, os revolucionários, se sentiram desconfortáveis por serem inimigos do conhecimento). Sou professor e disso me orgulho.

Mas não sou eu o propósito desse texto, o introdutório foi apenas para deixar claro que não sou apenas um curioso, um “achador”, um teórico ou apenas um “pedagólatra “ e que o tema educação não me é um mote de campanha eleitoral obrigatório, dado que jamais fui candidato a qualquer coisa e nem tenho esse propósito.

No decorrer desses últimos 25 anos, além da regência de classe, exerci também a função de coordenador de projetos da secretaria municipal de educação e hoje sou membro do Conselho Municipal de Educação.

Nessa última função, a cada reunião tenho problemas com os representantes do sindicato dos professores. Eles devem ver-me como um reacionário, conservador e escravocrata. Não sou escravocrata. Do meu lado, os vejo como imbecis que teimam em reivindicar salários, melhoria das condições de trabalho, salário, redução da carga horária, salários, aumento de salários, adicionais disso e daquilo, salário, transporte, salário... Em nenhum momento propõem suspensão para professores faltosos com assiduidade, premiação por produtividade, promoção por mérito, avaliação anual dos docentes e afastamento para recapacitação daqueles reprovados dois anos seguidos, fim da vitaliciedade do cargo, vacinação em massa do corpo docente do município, do estado, da união ou de estabelecimentos particulares contra gripe (principal motivo alegado para faltas).

Não vejo também secretários e prefeitos (sem falar em parlamentares e governadores), em todos esses anos, tomarem medidas que possam ser antipatizadas pelos professores, mas que a médio e longo prazo poderiam fazer do Brasil um país trilhando o caminho correto da boa educação. Por ser, nos estados e municípios, a função que ocupa o maior número de eleitores (no meu município, a exemplo do que ocorre em muitos outros do país, professores ocupam quase 30% da folha de pagamento), governantes preferem se deixar acuar pelos sindicatos do que dar respostas positivas para o alunado e suas famílias.

Mas essa politização da educação não se dá apenas em municípios, também nos estados e união. E em escala crescente. Via de regra, as prefeituras empregam professores com menos títulos de especialização, mestrado e doutorado. Este número é um tanto maior nos estados e diversas vezes maior nos institutos e universidades federais. Aliás, se me permitem parênteses, não são poucos os professores “federais” que ganham a vida estudando, adquirindo títulos para ascenderem profissionalmente e melhorarem seus salários que raramente têm tempo para dar aulas. Em alguns casos, o corpo discente é apenas um empecilho para suas carreiras.

Voltando. Quanto mais tempo de estudo, mais politizados se tornam os docentes. Quanto mais politizados, mais argumentos e estratégias têm para sequestrarem os governantes. Mais se sindicalizam, se reúnem em seminários, colóquios e que tais. Quando é de seus interesses se reúnem e dão apoio a estudantes e funcionários em suas respectivas greves e ganham força para conseguirem mais e mais vantagens sem a necessidade proporcional de devolverem em qualidade em suas funções. Nessa republiqueta sindical, educação é tema obrigatório em palanques e artigo em falta no cotidiano.

Grade curricular cada vez menos exigente; livros didáticos a caminho da anorexia; avaliações meia-boca para estudantes; avaliação dos docentes inexistente ou pífia; cotas para negros, índios, deficientes e até mesmo para filhos de funcionários de institutos federais, como forma de “incluir” os menos favorecidos, mas que apenas adiam a necessidade de requalificar profissionais, reequipar escolas públicas, dotar os estudantes de escolas públicas com condições de competir em igualdade de condições com os formados em boas escolas privadas.

Costumo citar o Ícaro Luís Vidal, primeiro negro cotista a concluir o curso de medicina na UFBA, amplamente noticiado em 2012. Não diminuo seus méritos, pelo contrário, é digno de elogios, mas a questão que jamais vi alguém fazer é: onde foram parar os outros 19 cotistas que entraram junto com o Ícaro, em 2005? Ficaram pelo caminho por não terem base científica? Foram jubilados? Mudaram de curso? Desistiram por não terem condições financeiras de bancar o material do curso, que, mesmo sendo numa instituição pública, não é barato (livros, cursos, seminários, maleta médica...)?

A discussão é longa, mas algumas medidas, se houvesse governante com coragem para tomá-las, mudariam a cara do Brasil e entre elas repito as que citei lá em cima. Acrescentaria: plano de demissão voluntária para aqueles que estão cansados de dar aulas, desestimulados e que, por isso ou além disso condenam gerações a serem vítimas de educação de má qualidade que é o mesmo que falta de educação.

Para os professores, meus parabéns pela seriedade com que encaram seu sacerdócio, pela preocupação com as gerações futuras, pela abnegação, pelo bom exemplo, pela crença que não se faz futuro sólido sem educação de boa qualidade. Aos “dadores” de aulas, um conselho: mudem de profissão, assim estarão fazendo um grande bem aos jovens, aos futuros filhos desses jovens, aos filhos desses filhos... numa progressão geométrica ad infinitum.

Educação é investimento a longo prazo. É como uma árvore que demora a dar frutos. Planta-se hoje, mas o fruto só nascerá daqui a quinze, dezoito anos.

Bom professor é aquele que não sonega conhecimento, faz questão de passar adiante tudo o que sabe. Mas para ser deveras um grande professor, tem que ter muito conhecimento ou o tudo que passará adiante será muito pouco.

©Marcos Pontes

domingo, 22 de setembro de 2013

Pensatas

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Gil
“Agora é o dá ou desce pra esse capitalismo desumano, ôxe! Eu mais Paulinha mais Gil mais Gal mais Bethânia mais Pemba formamos um coletivo revolucionário na Lagoa de Abaeté. Mas a gente também passa no Pelô e no circuito Barra-Ondina.”
“A gente ia se chamar Doces Vândalos, mas Gil falou que o ‘propagandamento da vandalização é extrinsicamente contra-informação da mídia feladaputalhizante’. Não entendi nada, mas como eu amo essa preta, mudei o nome. Agora é Axé Vandálico. Pemba gostou.”
“Eu organizo o movimento, eu oriento o carnaval. Mas tem que pedir pra Paulinha. Senão ela me enfia a mão no pé do ouvido e a revolução acaba antes de começar, ôxe.”
“Liguei pra Pablo Capilé. Expliquei a ele como Carmen Miranda e Chacrinha planejaram a Semana de 22 e como esse evento revolucionário influenciou o axézismo de Dodô e Osmar. Capilé falou que prefere a parte dele em dinheiro. Não entendi.”
“Esse moço do hip-hop, o Espermicida, veio visitar nosso coletivo. Ele chegou e falou ‘Eu sou Amarildo, eu sou Candelária, eu sou Carandiru, eu sou Sem-Terra’. Coitado. Tão moço e já esquizofrênico, ôxe.”
“Enquanto os homens exercem seus podres poderes, eu mais Gil mais Gal mais Giló mais Gozô mais Wanderley Wellington (nosso núcleo não para de crescer, ôxe) escrevemos a pauta de reivindicação da revolução.
Exigimos:
1) Uma baleia
2) Uma telenovela
3) Um alaúde
4) Um trem
5) Uma arara
6) E ao mesmo tempo, bela e banguela, a Guanabaaaara”
“Liguei pra Black Bloc. Expliquei a eles como os Irmãos Campos e as Irmãs Galvão inventaram a Bossa Concretista e como esse evento revolucionário influenciou o enlarguecimento da roda de Sarajane e Luís Caldas. O Black Bloc falou que vem aqui me dar um pau. Falei para eles que chamo Paulinha. O Black Bloc mudou de assunto.”
“Eu mais Gariroba mais Quizomba mais Caleidoscópio mais Wanderley Wellington mais Pemba fomos comprar material pra fazer coquetel molotov. Eu expliquei que só podia ser com vodca importada, mas Quizomba falou que eu era um baiano burguês e não entendia porra nenhuma de molotov. Fiquei cheio de ódio e unhei a cara dele. Começou o maior quebra-quebra. Chegou uma fila de soldados quase pretos dando porrada na nuca dos malandros pretos e sobrou até pra mim que sou quase branco, mas fui tratado feito preto.”
“Agora estou em cana. O sol nasce quadrado e me enche de alegria e preguiça. Os porcos capitalistas podem prender meu corpo, mas meu pensamento voa livre sem livros e sem fuzil para espalhar a revolução no coração do Brasil. Só que não. Só que não. Só que não. Só que não.” (Edson Aran)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Panela em que dois mexem…

Já diziam os antigos, “panela em que dois mexem, desanda”. Era esse o meu receio quando o MPL chamou o populacho às ruas para manifestar-se contra o aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus na capital paulista.

O movimento prometia ser localizado, mas tornou-se maior do que o próprio MPL esperava e elevou seus líderes a celebridades contestadoras, tinham tudo para tornarem-se líderes nacionais de uma (ou muitas) mudança estrutural nacional.

Retiraram bandeiras partidárias das ruas, o que foi uma grande jogada, levando-se em conta que o brasileiro médio não entende quais as funções de partidos e vê nas siglas partidárias nada menos do que sindicatos de bandidos. Maneira de ganhar a simpatia popular.

Expulsos os partidos - e isso ficou ainda mais patente com a escorraçada que deram no bloco de petistas que, a mando do presidente do partido, resolveu assumir a paternidade da multidão na Avenida Paulista - a oposição recolheu-se. Era a grande oportunidade de que precisava para opor-se de verdade, ao contrário do arremedo de oposição que desenhou-se após a ascensão petista no primeiro mandato de Lula.

Sob recomendação do próprio Lula e de seu lua parda, João Santana, Dilma apoiou as manifestações contra ela e seus cúmplices palacianos e congressistas. Recebeu aplausos da mídia pela iniciativa e retirou o MPL das ruas. Esvaziou o movimento que já havia se espalhado país a dentro.

O mote “o gigante acordou”, gritado a pulmões plenos e repetido em caixa alta nas redes sociais foi perdendo o fôlego.

Dilma, espertamente, propôs um pacto, prometeu mundos e fundos e pouquíssima gente percebeu que ela fazia promessas para que nós subíssemos de joelhos o Redentor. Nenhuma das medidas prometidas depende diretamente do Executivo, o Poder que tem em suas mãos o comando. Fez promessas a serem cumpridas pelo Legislativo e pelos executivos estaduais e municipais.

A oposição sem voz, aquela que reverbera sem ser ouvida nas redes sociais e nos botecos, achou-se vitoriosa. Acreditou na imprensa que cantava a vitória do “povo”. Voltou à sua letargia histórica.

Os chefinhos do MPL, Fist (de que nunca havia ouvido falar antes de ver suas bandeiras tremulando pela Paulista) e todos os demais “movimentozinhos sociais”, depois de recebidos no Planalto pela sua comandante-em-chefe, recolheram-se. As iminentes eminências desapareceram na velocidade com que surgiram, sabe-se lá às custas de que afagos presidenciais.

O Senado, não amedrontado, apenas assustado, aprovou de afogadilho um projeto de lei que tornaria corrupção em crime hediondo, uma das promessas da presidente. Combinado ou não, dias depois a Câmara desaprova o mesmo projeto, fazendo com que corrupção fosse crime hediondo pelo tempo recorde de cinco dias.

Coincidentemente ou não, o levante popular coincidiu com a Copa das Confederações. Estavam nas ruas cartazes, faixas e gritos comparando o maldito “padrão Fifa” dos estádios e de organização com o “padrão PT” de infraestrutura e cuidados deveras sociais, como saúde, educação e transporte. “Não precisamos de estádios, mas de hospitais”, “Não temos escolas, mas temos estádios”, “FIFA go home!” lia-se e ouvia-se em todos os lugares. E esta gritaria durou até domingo, dia em que o Brasil golearia a Espanha, tornar-se-ia campeão intercontinental e ufanismo, pela milionésima vez, seria confundido com patriotismo e o gigante que havia acordado foi ninado mais uma vez. Voltou ao seu berço esplêndido e espoliado.

Plebiscito ou referendo ou reforma política ou constituinte... A proposta de constituinte lançada por Dilma foi desmontada nas primeiras vinte e quatro horas após feita. Juristas, OAB, imprensa uniram-se em uníssono contra esse engodo. Parte do populacho fez beicinho, sem entender ou querer entender as implicações legais, pecuniárias e cronológicas da medida.

Reforma política, algo que tramita nas épocas de eleições, há mais de quarenta anos no Congresso, parece ser vontade geral. Parece! De fato os cardeais da política nacional, verdadeiros oligarcas como Sarney, Collor, Lula, Calheiros, os Braga do Amazonas e Acre, Íris Resende, Perillo, os herdeiros de Arraes e outros tantos, só aceitam uma reforma política se for para manter tudo como está e não correrem o risco de perderem um milímetro de seu poder para novos que possam aparecer.

Restam plebiscito e referendo, duas formas de darem ao povão a oportunidade de tornarem-se cúmplices das bobagens fantasiadas de reforma política que hão de aparecer.

Com imprensa na algibeira e mais o erário, o cheque e a caneta à sua disposição, governo e governistas terão os meios de comunicação e atores globais à venda, prontos para convencerem os mesmos eleitores tão politizados que elegem seus algozes e torcem por eles como torceram pela seleção brasileira contra a Espanha, que é sua vontade que está sendo aprovada nas urnas. Plebiscitos não são respeitados num país em que decretos presidencias viram leis, medidas provisórias caducam ou são negociadas em troca de obras, empregos ou favores pessoais. Plebiscitos mostraram-se arma poderosa dos governos bolivarianos congraçados anualmente nas reuniões do foro de São Paulo.

Aquela molecada que saíra às ruas em mais de cem cidades protestando contra... contra... contra o quê mesmo?, não sabia se o que os jornais estavam falando, discutindo, dizendo e desdizendo é bom ou ruim. Virou discussão de gente grande. “Continuamos contra”, só não sabemos contra o quê. Alijaram o populacho do embate.

Vem a segunda fase das manifestações. Aparecem em cena os sindicatos. Médicos contra médicos cubanos; caminhoneiros contra pedágios; bancários contra, ou melhor, a favor de aumentos salariais; meia dúzia de grêmios estudantis pedindo passagem grátis... As muitas mãos que mexiam a panela tomaram colheres diferentes e o governo seguiu à risca o secular ensinamento: dividir para conquistar.

Dividiram a movimentação popular em vários movimentozinhos, mais fáceis de serem dominados. Mandaram a garotada, em pleno gozo de férias escolares, de volta para suas casas, para as férias na Disney, para a fazenda dos avós e para seus X-boxes. Alisaram as cabeças dos líderes dos “movimentos sociais”, como disse, sabe-se lá a que custas. Fizeram e fazem reuniões com os caciques políticos que fazem parte de seu clube particular. Ignoraram as propostas plausíveis de reforma política, como as feitas por Aécio Neves em seu primeiro discurso após o levante. Continuam a esconder os gastos com cartões corporativos em nome da segurança nacional, a despeito do discurso de transparência da maior gastadeira, a presidente...

Tudo voltou a ser como antes, mesmo que os repórteres, ávidos por sensacionalismo para suas manchetes, insistam que o país mudou, que nada será como antes. E o povão, satisfeito com suas vitórias cantadas e recantadas, volta à sua vidinha de assaltado, como se não fosse com ele o problema.

©Marcos Pontes

domingo, 30 de junho de 2013

Perguntas para o plebiscito

Caros leitores, abaixo as questões que alguns de vocês me enviaram e que compilei da melhor maneira que me permiti. Lógico, sabemos que dificilmente os parlamentares as levarão em conta e, caso considerem alguma, não terá essa mesma redação, não podemos, porém, nos omitir e deixá-los montarem esse plebiscito sem nossa interferência ou, ao menos, sem saberem que estamos de olho e vigilantes.

Se mais e melhores perguntas não estão aqui, amigos, é porque você não atendeu a meu pedido, sugiro, então, que elenque suas próprias questões e as envie aos parlamentares:

 

Excelentíssimo(a) senhor(a) parlamentar,

Não falo aqui em nome de multidões, de clubes, de entidades não governamentais ou de qualquer outra instituição constituída, mas tenho a convicção que muitos brasileiros haveriam de convir com minhas posições não à toa, mas porque as questões elencadas abaixo foram elaboradas com a participação de vários contatos das redes sociais das quais faço parte e nas quais troco opiniões, notícias e argumentos com milhares de pessoas viventes no Brasil e no exterior, todas preocupadas com progressões político-partidária, social e econômica de nossa nação.

De minha parte, adianto que me posiciono contra plebiscito ou referendo. Desde há muitos anos ouvimos falar na necessidade de uma reforma política no Brasil e cada vez que elegemos nossos representantes o fazemos na esperança que nossos representantes façam tais reformas e eles (os senhores) não o fazem, demonstrando claramente que não nos representam de fato, apenas de direito.

Por conta de nossa desesperança em que vossas excelências passem a nos representar de bom grado, resolvemos ir às ruas, e, embora os jornais digam o contrário, ainda não estamos satisfeitos com sua mudança de postura no trato das grandes questões nacionais. O que vemos é um jogo de cena para ficarem bem diante da opinião pública, a mesma para a qual vossas excelências costumam virar as costas na quase totalidade do tempo. Aquela opinião pública que só recebe alguma importância no período eleitoral. Se me permite, excelência, uma pequena lição de eleitor, o interesse eleitoral que ocupam a totalidade do tempo só interessa ao eleitor na hora de encarar a urna, mas cada vez mais vem dependendo da postura do candidato durante seu mandato anterior ou do passado como cidadão.

Permita lembrar-lhe, excelência, que a Lei da Ficha Limpa nasceu nas ruas e não na boa vontade dos parlamentares ou das lideranças político partidárias. Coube a vossas excelências deturparem o texto original que lhes enviamos, mais uma vez demonstrando seu desrespeito com a vontade de seu eleitorado.

Acreditando que o dito plebiscito é inevitável, uma vez que suas lideranças, sejam situacionistas ou oposicionistas, têm um medo maior da autoridade da presidência da República do que de seus eleitores, sugerimos que as questões abaixo, englobando temas que consideramos mais urgentes para que o Brasil saia do marasmo em que se encontra por tanto tempo, para que as mesmas façam parte da famigerada consulta popular.

1. Quer financiamento privado para campanhas eleitorais?

2. Quer voto facultativo?

3. Quer voto distrital puro?

4. Quer o fim das coligações partidárias?

5. Quer o fim de foro privilegiado para parlamentares em caso de crime comum?

6. É a favor da redução de deputados federais para a metade do número atual?

5. É a favor do fim de salários para vereadores de cidades com menos de 250 mil habitantes?

6. É a favor do teto de 10 salários mínimos como salário de vereadores de cidades com população entre 250.001 habitantes e 1.000.000 de habitantes?

7. É a favor de teto de 15 salários mínimos de salário mensal para deputados estaduais?

8. É a favor de teto de 20 salários mínimos de salário mensal para deputados federais?

9. É a favor de teto de 25 salários mínimos de salário mensal para senadores?

10. É a favor da extinção de quaisquer vantagens financeiras para parlamentares, respeitando até o 13o salário?

11. É a favor do fim da aposentadoria de parlamentares?

12. É a favor da extinção de reeleição para chefes de Poder Executivo nas três esferas?

13. É a favor da extinção de segunda reeleição para membros do Poder Legislativo nas três esferas?

14. É a favor da eleição de ministros juízes do Supremo Tribunal Federal por seus pares (advogados, juízes das demais esferas, promotores públicos, desembargadores e delegados), extinguindo-se a prerrogativa de tais indicações sejam do Presidente da República?

15. É a favor de que quem exerça cargo ou função pública, julgado e condenado em primeira instância seja automaticamente exonerado deste cargo ou função?

16. É a favor que cidadão ou cidadã cassada tenha suspensa sua matrícula em partido político e proibido de exercer qualquer cargo público, seja por concurso ou indicação?

17. É a favor da extinção da suplência de senador?

18. É a favor de apenas 2 senadores por estado?

19. É a favor clausula de barreira de mínimo de 5% de vagas na Câmara dos Deputados para que o partido tenha efetivado seu registro de funcionamento?

20. É a favor do fim das verbas de gabinete?

21. É a favor do fim dos cargos de assessores de parlamentares, sendo suas funções exercidas por profissionais de carreira escolhidos por meio de concurso público?

22.  É a favor do financiamento de campanha exclusivo por Pessoas Físicas, limitando-se a uma doação por CPF, auditada pela Receita Federal?

23. É a favor do fim do Horário Eleitoral Gratuito?

24. É a favor da fidelidade partidaria, sendo seu desrespeito sujeito a punição do autor?

25. É a favor da cassação de eleito que não tenha cumprido, no decorrer do mandato, o projeto eleitoral apresentado durante a campanha e previamente registrado em cartório?

26. É a favor de que todas as eleições sejam majoritárias?

27. É a favor de candidaturas a cargos eletivos de cidadãos não filiados a partidos, mas em pleno gozo dos direitos civis?

Cópia dessa missiva será encaminhada a cada um dos seus pares de ambas as casas legislativas, para as direções de seus partidos, para a presidente da República e para os principais jornais do país. Será ainda publicada em meu blog pessoal e espalhada pelas redes sociais. Se vossa excelência me surpreender com uma resposta, terei prazer de divulgá-la, uma maneira de mostrar a meus eventuais leitores que existe um ou outro parlamentar preocupado em prestar contas a seu eleitorado.

Saudações de um cidadão indignado e pouco esperançoso.

©Marcos Pontes

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Porquê sou contra

 
Sou absolutamente contra plebiscito e/ou referendo. Me dói, mas concordo com as lideranças políticas que afirmam que o Congresso tem a competência e obrigação legal e moral de fazer as reformas. É necessário que a população que vai às ruas na onda e meio perdida, sem dar-se ao trabalho de analisar a história e a legislação, coloque pressão para que ajam. 

Fomos às urnas no referendo do desarmamento. Mais de 60% da população votou "não" e o que fez o governo? Baixou o desarmamento por decreto. Isso diminuiu a violência? Não, apenas aumentou, e muito. 

Por plebiscitos El Loco Chávez eternizou-se no governo venezuelano, hoje naufragando na inflação de dois dígitos por mês. Pior, deixou para Maduro a mesma condição de tornar-se o deus-sol caribenho.E esta tem sido uma tática para dar legitimidade ao ilegal, expediente bastante utilizado por governos autocráticos que esperam, com os resultados de referendos e plebiscitos, darem uma vestimenta de apoio popular naquilo que foi espalhado como salvação da lavoura através de propagandas milionárias ou força bruta.

Eleições não são sinônimo de democracia, isso todo cidadão minimamente informado já sabe. União Soviética, China comunista, Irã teocrático, Iraque husseniano e republiquetas bolivarianas sempre fizeram eleições e são o que são, a antítese da democracia.

No texto do plebiscito/referendo, essa politicanalha que não quer largar o osso colocaria apenas questões que lhe interessa, sabendo que o grosso do populacho votaria sim ou não sem conhecer o que estaria votando. E para convencer os eleitores a votarem no que gostaria, apelaria para a propaganda, enchendo de atores e subcelebridades “globais” seus comerciais com apelos populistas e mentiras sem fundo. Camila Pitanga, Regina Casé, José de Abreu e mais uma meia dúzia de venais fariam fortuna às custas das desgraças populares. 

Se mesmo assim as vontades dessas lideranças políticas fossem rejeitadas, nada impediria que a manutenção do que há continuasse por decretos ou arranjos no Congresso com conivência do governo federal e vice-versa. 

A saída seria a vigilância constante e exigência popular (entenda-se por popular a cobrança dos 10 % que leem jornais e entendem o que entrava o crescimento e a democracia do país) nas votações de ponto por ponto, lei por lei. É uma atuação longa e demorada, mas que pode trazer resultados muito melhores a longo prazo do que um pacotão com todas as "salvações da pátria", algo que todo brasileiro já deveria ter aprendido. 

©Marcos Pontes






segunda-feira, 24 de junho de 2013

Resposta a Dilma

Dilma-Roussef4 (1)

Abaixo o “pronunciescremento” da presidente da República e meus pitacos analíticos. O texto dela está em itálico e minhas respostas, em negrito. Enviarei este texto a todos os parlamentares:

"Minhas amigas e meus amigos, todos nós, brasileiras e brasileiros, estamos acompanhando, com muita atenção, as manifestações que ocorrem no país.

Cada um acompanhando sob a óptica que lhe interessa, seja pelo viés ideológico, seja pelo dos interesses corporativos, seja por aspirações pessoais.

Elas mostram a força de nossa democracia e o desejo da juventude de fazer o Brasil avançar.

Mesmo sem saber por que caminho. O fato é que no caminho que vem trilhando o país dirige-se a terreno pantanoso e vermelho. A juventude, com mais vontade do que conhecimento, percebeu que o rumo é torto e os objetivos não são claros. Empiricamente percebe que seu futuro está comprometido, só não sabe até que ponto.

A insegurança deve-se a dois pontos: 1. O total desconhecimento do futuro que lhe é reservado, mas isso é inerente à condição de jovem, sempre tão cobrado quanto a seu investimento pessoal no futuro, quanto ás consequências de seus atos presentes no futuro que ela própria desenha sem preocupar-se com os frutos que colherá a longo prazo; 2. A política de tutela criada pelo governo Lula que disse à população como todo e à juventude em particular que somos todos vítimas de um passado longínquo, de uma elite branca e de olhos azuis exploradora e escravista. Que não temos capacidade de determinar nosso futuro, reconhecer nossas aspirações, determinar nosso rumo e por isso precisamos do Estado, nunca tão corado de vermelho, para nos levar pelas mãos para um futuro melhor. Gastaram bilhões em propaganda na última década para nos mostrar que nossos governantes são mais sábios, inteligentes e preparados para nos levarem à nova Canaã do que nós próprios.

Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas.

Por treze anos o governo federal e seus satélites estaduais, municipais, partidários e cartelizados poderiam ter incentivado a população jovem a canalizar essa energia toda para coisas construtivas, educá-la para o futuro e não para o passado “opressor” e não para as questões emergenciais de sustentação de um estado administrado por uma salada de siglas sócio-comuno-nazistas ávida pelo poder desde 1930 e que agora, osso abocanhado, fez de tudo para eternizar-se no trono sem analisar o país a longo prazo. Muito poderia ter sido construído nessa mais de década com a vitalidade da juventude como aliada e mão de obra, mas não deu-se-lhe importância além dos discursos eleitorais e de programa eleitoreiros pseud0-progressistas.

Mas se deixarmos que a violência nos faça perder o rumo, estaremos não apenas desperdiçando uma grande oportunidade histórica, como também correndo o risco de colocar muita a coisa a perder.

A tática de desmerecer o movimento popular frisando-se nas sensacionalidades da imprensa. No último grande movimento paulistano não houve violência, tirando o episódio provocado pelo bloco dos camisas vermelhas que afrontou o apartidarismo da manifestação, produto de uma manobra criminosa do presidente do próprio PT, que insuflou seus correligionários de manobra para saírem as ruas, peitando dezenas de milhares de apartidários, sem levar em conta que tal ato poderia provocar um episódio sangrento. Talvez fosse essa mesma sua intenção. A história mostra que a esquerda adora mártires como elemento de propaganda. Ao redor do mundo existem milhares de monumentos levantados a eles, mesmo que eles não passem de assassinos sanguinários e ególatras, como Stálin, Guevara e mais algumas dúzias.

Os repetidos episódios cariocas não são motivo de orgulho para as oposições, mas ajudaram a desmontar a mentira cabralina de que a cidade está pacificada. Quando aquela turba criminosa desceu da Cidade de Deus para destruir a Tijuca, ficou transparente que a pacificação carioca não passa de um golpe marqueteiro e que a política da segurança pública da dupla Cabral-Paes é apenas um tática de “espalha bosta”, desconcentrando os grupos criminosos de lugares tidos e sabidos para uma ocupação nova em toda a cidade e, pior, exportando o crime para outros estados, principalmente os nordestinos que têm recebido os respingos.

Como presidenta, eu tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia.

Um pouco tarde para admitir isso. Durante todas as três administrações petistas, os únicos segmentos que tiveram diálogo com a presidência da República foram, não necessariamente nessa ordem de importância: banqueiros, sem-terra, direções sindicais, grupos racistas às avessas (negros discriminando brancos), corporações (esportivas, partidárias de sustentação do governo). Quanto a lei e ordem... Não são conceitos muito bem aceitos pelos nossos administradores há 513 anos, não seria agora, no mais período mais corrupto de nossa história republicano que seriam acatados.

O Brasil lutou muito para se tornar um país democrático. E também está lutando muito para se tornar um país mais justo.

O país, senhora presidente, nunca lutou tanto para tornar-se democrático. Eleição não é sinônimo de democracia e a história já provou isso em diversas oportunidades. Na União Soviética, na China pós-Mao, em Cuba, no Iraque de Hussein... mesmo na tão odiada pela senhora e seus cúmplices ditadura brasileira, havia eleições periódicas. Na nossa democracia representativa, como vem-se repetindo nas ruas e redes sociais, o grosso da população não se sente representada pelos seus representantes o que torna nossa democracia numa democracia de urnas e não de leis, de aplicação dos recursos públicos, de penalização e punição de criminosos de qualquer segmento. E enquanto não for democrático, jamais será justo. Sem falar que o conceito de “justo” varia de grupos deveras democráticos para grupos que têm em seus líderes os guardiões da democracia, como se ela também tivesse que ser tutelada por grêmios e partidos e não um bem comum e público, como uma placa de trânsito ou um centavo do erário.

Não foi fácil chegar onde chegamos, como também não é fácil chegar onde desejam muitos dos que foram às ruas.

De fato, para chegarmos onde estamos foram necessários 13 anos petistas de poder depois de várias tentativas, graças a Deus, frustradas. Adiamos o quanto podemos que seus cúmplices ascendessem à presidência. Depois que apossaram-se da faixa presidencial, começamos a chegar a esse ponto.

Só tornaremos isso realidade se fortalecermos a democracia - o poder cidadão e os poderes da república.

Se fortalecermos a democracia não chegaremos onde seu partido e seus partidos satélites e sequestradores da res-pública não chegarão onde desejam e é com isso que os bons brasileiros contam e os brasileiros ignorantes dos meandros da política partidária gostariam que acontecesse, mas por conta de seu próprio despreparo de eleitores podem permitir que se perpetue.

Os manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo. De propor e exigir mudanças. De lutar por mais qualidade de vida.

Não precisamos de sua tutela para isso. Não é a senhora quem decide, mas a própria Constituição federal. Não tente dar uma de boa moça nos permitindo essa regalia cidadã. Sabemos que podemos e devemos nos manifestar, independentemente de sua vontade e, melhor, sem ela.

Seus dois conselheiros, o ex-presidente que lhe deixou essa herança maldita propositadamente, na esperança que a senhora caia em desgraça e ele retorne como salvador da pátria (papel que ele adora e talvez até acredite nele) e um marqueteiro, que deram a lição certa: “concorde com os manifestantes, dê-lhes apoio e terá sua simpatia. Com isso esfriará o movimento das ruas”. Deu certo. Muitos voltaram para casa felizes porque a presidente lhes deu razão.

De defender com paixão suas ideias (sic) e propostas. Mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira.

Pacífica e desordeira, embora teimando em jogar pretos contra brancos, pobres contra ricos, sulistas como nortistas, analfabetos contra cultos, foi a política petista de levar o país à situação insustentável em que se encontra. Pior, no fundo do poço e cavando.

O Governo e sociedade não podem aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos aos nossos principais centros urbanos.

Voltando à questão do vandalismo e da violência, que são fatos e preocupantes, claro, mas são, como bem diz, minoritários, dá ênfase ao que, no fundo, menos interessa no levante popular que ensaiou-se e não aconteceu. A violência de alguns deveria ser punida com rigor, mas as leis brasileiras são frouxas e apadrinham bandidos, até os premiam quando deixa de puni-los.

Quando a população vai às ruas contra a violência, em sua maioria não sabe, mas o combate viria mais efetivamente com punições exemplares, Justiça rápida, número suficientes de promotores e juízes para darem celeridade aos processos, polícias preparadas com equipamentos e pessoal técnico bem treinado e equipado. E isto também faz parte de uma reforma nacional. Para que ocorra é necessário, antes de presidentes geniais, parlamentares antenados, preparados, educados dos problemas nacionais. Se não temos um parlamento digno, que tenhamos executivos capazes de prepararem projetos de leis factíveis, eficazes e que prezem pelo bem estar da totalidade da população e não da minoria criminosa, muito mais opressora do que qualquer patrão exigente, do que qualquer elite europeia de olhos azuis.

Essa violência, promovida por uma pequena minoria (sic), não pode manchar um movimento pacífico e democrático.

A “pequena minoria” mais violenta do país é o governo federal e seus apoiadores diretos, os parlamentares e dirigentes partidários. Com seu silêncio conivente e canetas afiadas, desviam e deixam desviar; roubam, deixam roubar e dividem os roubos; vendem-se e compram-se. Condenam a “grande maioria” a pagar por tudo em escorchantes impostos e taxa enquanto sofrem com serviços da pior qualidade que nosso dinheiro pode comprar.

Não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil.

Vide parágrafo anteiror.

Todas as instituições e os órgãos da Segurança Pública devem coibir, dentro dos limites da lei, toda forma de violência e vandalismo.

É isso que desejamos, os bons brasileiros, que sejam coibidas TODA forma de violência e vandalismo. Desde o apedrejamento de ônibus e prédios públicos ou particulares, até o saque constante dos cofres públicos, construções de elefantes de todas as cores sem licitações, obras inacabadas como a transposição do São Francisco – duto pelo qual só escoam divisas - , isenção de impostos a instituições milionárias como a FIFA e empresas privadas como as mentirosas eikebatistianas, apadrinhamento de bandidos estrangeiros como Battisti, Morales, Chávez-Maduro e contumazes ditadores comunistas ao redor do globo.

Com equilíbrio e serenidade, porém, com firmeza, vamos continuar garantindo o direito e a liberdade de todos.

Mais uma vez, senhora, não precisamos de sua tutela. É nosso direito constitucional que não precisa da autorização de vossa excelência ou de qualquer outra excelência.

Asseguro a vocês: vamos manter a ordem.

Asseguro à senhora, vamos continuar pedindo ordem. Mas não a ordem sob óptica petista.

Brasileiras e brasileiros, as manifestações dessa semana trouxeram importantes lições: as tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional.

E volta-se à questão das tarifas de transportes... A senhora e seus assessores, além de prefeitos, governadores e imprensa teimam em fixar-se na questão das passagens, uma maneira de lançar cortina de fumaça sobre todas as outras questões estruturais, desde a mobilidade urbana, que não se resume ao preço das tarifas, mas à manutenção das vias e criações de outros meios de transporte, alguns iniciados e jamais concluídos (metrôs de Salvador e Fortaleza, por exemplo, hidrovias do Centro-Oeste); saúde doente; educação sucateada no currículo e nas edificações; segurança pública que coloca policiais amedrontados atrás dos muros e bandidos serelepes soltos em todos os lugares, inclusive palácios...

Temos que aproveitar o vigor destas manifestações para produzir mais mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira.

Errado. Governantes têm que agir antes que a insatisfação pública gere ações como essa. Seu governo, como os de seu antecessores, pautaram suas campanhas eleitorais em mudanças necessárias para a melhoria do país. Nada fizeram para melhorar e todas, ou quase todas, as mudanças proposta ou efetivadas contribuíram para o caos para o qual nos dirigimos. O que vier daqui por diante, espero, virá para corrigir o curso espiralado em que seu governo nos meteu.

A minha geração lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram perseguidos, torturados e morreram por isso.

Não personalize, senhora. Sua geração? Fala-se aqui de milhares de milhares de pessoas de qualquer geração. Mesmo quem derrubou João Goulart tinha em vista a melhora nacional. Se erraram no métodos, seu governo também não acertou. Pior, permitiu o desmando e o roubo geral. Nem seu antecessor, conivente e negociante com bandidos da pior espécie, foi tão conivente com o roubo, pelo menos no discurso.

“Muitos foram perseguidos, torturados...”, e agora é a hora da vingança? Perseguir e torturar tem sido práxis corriqueira dos governos petistas A diferença está na substituição da prisão pela extorsão, do pau-de-arara pelo descaso.

A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada. E ela não pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros.

Pois nos ouça e respeite e dê-nos o que pedimos, muito além de tarifas justas de ônibus o que, aliás, não é responsabilidade da presidência, mas das prefeituras. O governo federal pode ajudar muito diminuindo os impostos e aí não apenas no transporte público, mas em todos os serviços e produtos. Pela experiência do baixo IPI nos carros e eletrodomésticos já ficou claro que todo o país cresceria.

Sou a presidenta de todos os brasileiros. Dos que se manifestam e dos que não se manifestam.

Entendeu isso agora? A senhora foi eleita para presidir para todos os presidentes, mas tem-se portado como presidente de certas castas.

A mensagem direta das ruas é pacífica e democrática.

Errado. A mensagem das ruas é uma forma pacífica de mandar mensagem de que pode vir a escaramuça.

Ela reivindica um combate sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos.

Percebeu agora, presidente? Esta foi a mentira pregada e engolida por Lula na campanha de seu primeiro governo. Até agora vemos falando mal da ineficiência dos poderes públicos no combate aos ladrões da pátria e só agora a senhora ouviu isso? Demita todos os agentes da Abin, devem ser petistas e viverem dormindo em serviço.

Todos me conhecem. Disso eu não abro mão.

Por conhecermos, sabemos que vem abrindo mão desde sempre.

Esta mensagem exige serviços públicos de mais qualidade. Ela quer escolas de qualidade; ela quer atendimento de saúde de qualidade; ela quer um transporte público melhor e a preço justo; ela quer mais segurança.

Tudo isso e mais, porém, numa maneira orquestrada, os governantes e a imprensa teimam em fixar-se no vandalismo e no transporte público. É muito mais que isso e, mais uma vez, fazem ouvidos moucos aos nossos gritos.

Ela quer mais.

Ela que o que lhe é de direito. Só isso já estaria de bom tamanho.

E para dar mais, as instituições e os governos devem mudar.

E eis o nossa mea culpa: não soubemos mudar. Mas aqueles 80 milhões de brasileiros que não votaram na senhora somados aos muitos que votaram e se arrependeram, estamos dispostos a mudar em 2014. Não se surpreenda se seus planos não vingarem.

Irei conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros poderes para somarmos esforços.

E nós estaremos conversando entre nós nas redes sociais, nas esquinas, nos trabalhos para somarmos esforços para nos opormos a suas excelências e suas mentirinhas.

Vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos.

No momento em que escrevo isso, a senhora dá a palavra ao ministro Padilha

O foco será: primeiro, a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que priviligie (sic) o transporte coletivo.

PLANO, PLANO, PLANO... Nenhum dos planos de seu governo ou de seu antecessor deu bons frutos. Chega de planos de afogadilho, precisamos de ações efetivas.

Segundo, a destinação de 100% do petróleo para a educação.

Promessa vazia. Primeiro, não se sabe quando virá esse dinheiro; segundo, não se tem ideia, se e quando vier tal dinheiro, de seu montante; terceiro, para que isso passe pelo Congresso, mais corrupção será necessária uma vez que muitos governadores e, por conseguinte, parlamentares, se opõem a essa determinação. No fundo, a senhora promete o que não tem garantia alguma de poder executar.

Terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do SUS.

No papel é bonito, mas analisemos o prático, coisa que pouco se faz nos nossos últimos governos. Como um médico eslovaco, por exemplo, dará assistência a uma pessoa iletrada , que mal fala português, lá em São Gabriel da Cachoeira?

Como os ministérios da Saúde e da Educação legalizarão os diplomas internacionais? Isso seria dispendioso e demorado.

O que tornará atrativo para médicos estrangeiros virem para o Brasil? Salários? Não seria, portanto, mais interessante para o país melhorar os salários dos nossos próprios médicos?

É fato que nossos médicos não querem ir para os rincões, por isso preferem partir para a especialização e continuarem nos grandes centros, trabalhando muito mais, porém em condições melhores. Não seria mais benéfico para o país melhorar as condições de trabalho nos rincões e premiar financeiramente os profissionais que aceitarem is para tão longe? Já que se gosta tanto de PLANOS, por que não criar um que seja interessante para profissionais recém formados distanciarem-se das capitais?

Anuncio que vou receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações populares.

O Movimento Passe Livre não representa a totalidade dos manifestantes. E foram a eles que a senhora recebeu. Temos muito mais representatividade do que meia dúzia de jovens socialistas bancados por um partido comunista.

Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências. De sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente.

Vide parágrafo anterior.

Brasileiras e brasileiros, precisamos oxigenar o nosso velho sistema político. Encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes, mais resistentes aos malfeitos e acima de tudo mais permeáveis à influência da sociedade.

Figura de linguagem. Oxigenar significa renovar? Oxigenar significa deixar nossos políticos profissionais respirarem mais à vontade? Quer fazer reforma política, presidente? Pois vou dar sugestão do primeiro artigo: FICA PROIBIDA SEGUNDA REELEIÇÃO EM CARGOS ELETIVOS MAJORITÁRIOS OU PROPORCIONAIS. Em outras palavras: prefeitos, governadores, vereadores, deputados estaduais, deputados federais só podem reeleger-se uma vez. Terminado o segundo mandato, tornam-se automaticamente inelegíveis por um mandato.

Segundo parágrafo: CARGOS ELETIVOS NÃO TERÃO DIREITO A SALÁRIO. A TÍTULO DE COMPENAÇÃO, TERÃO DIREITO A VENCIMENTOS MENSAIS IGUAIS AOS QUE GANHAM EM SUAS ATIVIDADES PROFISSIONAIS E TERÃO REAJUSTES ANUAIS NOS MESMOS PATAMARES DOS DEMAIS TRABALHADORES DE MESMO OCUPAÇÃO PROFISSIONAL. PROFISSIONAIS AUTÔNOMOS TERÃO REAJUSTE DE VENCIMENTO IGUAL AO ÍNDICE DE INFLAÇÃO NO PERÍODO. Traduzindo, professor-vereador receberá salário de professor; bancário-deputado receberá salário de bancário e assim por diante.

Passariam esses dois parágrafos? Claro que não, nossos políticos jamais aceitariam receber menos de seis dígitos por ano. Morre aqui minha esprança em reforma política.

É a cidadania, e não o poder econômico, quem deve ser ouvido em primeiro lugar.

Ah, como a senhora usa bem as palavras... “deve” não significa “tem que” ou, muito menos, “é”. Mais uma vez a senhora fala o óbvio, mas falando o óbvio admite que é inoperante e não coloca em prática o que vocifera no discurso.

Quero contribuir para a construção de uma ampla e profunda reforma política, que amplie a participação popular.

Vide parágrafo anterior.

É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático.

Nem tudo está perdido. Concordo com a senhora.

Temos de fazer um esforço para que o cidadão tenha mecanismos de controle mais abrangentes sobre os seus representantes.

O problema, presidente, é que nossos “representantes” não querem ser fiscalizados. Mesmo criando leis que permitem a fiscalização de seus atos deixam sempre brechas para fraudarem esses mesmos mecanismos. Esta não é nenhuma constatação genial minha, qualquer menos bobo que analise os mecanismos fiscais do país e os principais agentes fraudadores verão que é assim que a coisa funciona. É esse tipo de ação criminosa que nos leva a imaginar, vez por outra, que uma ditadura seria o caminho mais fácil: impõem-se leis de cima para baixo, rígida fiscalização, duras penas e rápidos inquéritos. Na prática sabemos que não seria simples assim, mas é o que nos resta pensar e fantasiar.

Precisamos muito, mas muito mesmo, de formas mais eficazes de combate à corrupção.

Há 513 anos e mais ainda nos últimos 13. Disso todos sabem, até Dona Maricota que vende cenoura na feira. A diferença é que eu e Dona Maricota, assim como o quase totalidade da população, não podemos criar essas formas, para isso elegemos nossos representantes que teimam em manter os vícios legislatura após legislatura, governo após governo, até que encontra um governo que é ninho quente e aconchegante e aí toda a roubalheira sai do controle.

A Lei de Acesso à Informação, sancionada no meu governo, deve ser ampliada para todos poderes da república e instâncias federativas.

Essa lei é tão boa e tão respeitada que há anos tento e não consigo a simples lista dos agraciados com a Ordem do Rio Branco e a Ordem do Cruzeiro do Sul, duas coisinhas simples que deveriam ser motivo de propaganda oficial, porém guardadas a sete chaves, como segredo de estado. Fico imaginando informações mais sérias e comprometedores como, por exemplo, os gastos com cartões corporativos da presidência da república. A senhora revelaria seus gastos?

Ela é um poderoso instrumento do cidadão para fiscalizar o uso correto do dinheiro público.

Inclusive o gasto com a manutenção e despesas da Presidência da república. E aí?

A melhor forma de combater a corrupção é com transparência e rigor.

Dê o exemplo. Revele quanto custa mantê-la, inclusive em suas viagens internacionais, ocasiões em que se hospeda, com uma enorme curriola, em hotéis cinco estrelas ao invés de hospedar-se nas embaixadas brasileiras, algumas verdadeiros castelos.

Em relação à Copa, quero esclarecer que o dinheiro do governo federal, gasto com as arenas, é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e governos que estão explorando estes estádios.

Já foi comprovada sua mentira, desculpe. Financiamentos são feitos com dinheiro do Tesouro Nacional, dinheiro público, portanto. Os financiados receberão à vista, as empreiteiras receberão á vista, a dívida estende-se por décadas e ninguém tem garantia de que serão saldadas.

Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a Saúde e a Educação.

Vide parágrafo anterior. Acrescento: a lei que isenta de licitação pública as construções para Copa e Olimpíada, assinada por seu antecessor, teve sua mão em sua elaboração.

Na realidade, nós ampliamos bastante os gastos com Saúde e Educação. E vamos ampliar cada vez mais. Confio que o Congresso nacional aprovará o projeto que apresentei para que todos os royalties do petróleo sejam gastos exclusivamente com a Educação.

Primeiro: educação e saúde não são despesas, mas investimentos. Enquanto governante ver essas duas áreas como despesas, ficamos condenados a serviços feitos com mais vontade e poucos recursos. Segundo: aumentar o valor absoluto é diferente de aumentar o percentual. Aumentou-se o bruto porque a inflação vem corroendo os valores, porque é mal empregado e porque não há fiscalização eficaz (de novo). O percentual, em relação ao PIB, porém, não tem crescido.

Não posso deixar de mencionar um tema muito importante, que tem a ver com a nossa alma e o nosso jeito de ser.

Ufanismo não, senhora, por favor.

O Brasil, único país que participou de todas as Copas, cinco vezes campeão mundial, sempre foi muito bem recebido em toda parte.

E daí? A Alemanha, a Espanha, Os Estados Unidos e a África do Sul participaram de menos Copas, os dois últimos têm muito menos tradição futebolística, todos sempre foram muito bem recebidos em Copas, mas, juntos, sediaram Copas que saíram mais barato do que a nossa será. A questão não é a Copa em si, mas o quanto foi gasto de dinheiro público em propriedades que deveriam ser privadas, como praças de esporte que ficarão para clubes, ou deveriam ficar, e estarão sucateados antes que consigamos dizer Copa do Mundo outra vez.

Precisamos dar aos nossos povos irmãos a mesma acolhida generosa que recebemos deles. Respeito, carinho e alegria. É assim que devemos tratar os nossos hóspedes.

Pergunto-me se nosso “povo irmão” da FIFA está preocupado com a roubalheira de que estamos sendo vítimas ou se nosso “povo irmão” da FIFA, por empatia, devolverá os R$ 500 milhões de isenção fiscal que terá pra dos dar esse circo sem pão e caro.

O futebol e o esporte são símbolos de paz e convivência pacifica entre os povos.

Blá-blá-blá.

O Brasil merece e vai fazer uma grande Copa.

Blá-blá-blá.

Minhas amigas e meus amigos, eu quero repetir que o meu governo está ouvindo as vozes democráticas que pedem mudança.

Eu também ouço a senhora, mas, assim como a senhora faz com as “vozes democráticas que pedem mudanças”, não estou dando a mínima atenção.

Eu quero dizer a vocês que foram, pacificamente, às ruas: Eu estou ouvindo vocês!

Como presidente de todos os brasileiros, como afirmou-se lá no início, deveria ouvir também os que não foram pacificamente. Mesmo que sejam bobagens, os marginais, que seu governo e amigos gostam tanto de defender, também tem algo a dizer.

E não vou transigir com a violência e a arruaça.

Tanto quanto nós não queremos transigir com a roubalheira generalizada.

Será sempre em paz, com liberdade e democracia que vamos continuar construindo juntos este nosso grande país.

“Continuar”? Por um acaso já começamos?

Boa noite"

Adeus.

©Marcos Pontes