As denúncias pipocam diariamente não só contra os membros do governo federal, mas em todas as instâncias do poder público; não só contra membros dos Executivos, mas, também, contra legisladores, juízes, promotores, delegados e promotores; não só contra componentes da esfera oficial, também contra as pseudo Organizações Não Governamentais que não dão um passo sem mamar nas tetas da viúva. Na ciranda de desmandos quem deveria investigar, coibir, fiscalizar e punir também pipoca, no terceiro sentido do termo.
Qualquer vendedor de laranjas em portão de estádio sabe que enquanto as leis forem frouxas e os órgãos fiscalizadores forem inócuos, incompetentes, aparelhados politicamente e covardes a roubalheira continuará. Os responsáveis pela feitura de leis e os responsáveis por fazerem-nas cumprir, porém, fazem de conta que não sabem e arrumam as mais esdrúxulas desculpas para na fazerem direito seu dever.
Somos o país do “deixa pra lá”.
O governador está comprando deputados? Ah, deixa pra lá.
A presidente está colocando incompetentes e ímprobos para gerenciar as estatais? Deixa pra lá.
Copa e Olimpíada estão superfaturadas e as negociatas para desviarem recursos públicos grassam de norte a sul? Deixa pra lá, o importante é que haja circo.
O povo não se manifesta, não vais às ruas, não protesta, não cobra de seus parlamentares? Dá um trabalho... Melhor deixar pra lá.
E aí, quando precisa de uma certidão, um exame médico, um remédio na farmácia do SUS e é mal atendido, deixa pra lá ou reclama na mesa do boteco como se o português do balcão fosse resolver seus problemas. O povo e o português do balcão deixam pra lá.
Deixando pra lá nos transformamos no país da barrigada. Cada um deixa a pança crescer para empurrar para o vizinho as questões que o afligem. O velho escapismo.
Nesse joguinho de empurra, a culpa é sempre do outro.
Se o guarda multa porque se atravessou o sinal vermelho, a culpa é do guarda que estava de tocaia; se o aluno tira nota baixa, a culpa é do professor; se a chuvarada alaga a cidade, a culpa é da prefeitura que não limpa os bueiros entochados do lixo atirado nas ruas pelo seu vizinho, a culpa é dele, você não faz isso; se o político assalta o erário, a culpa também é do vizinho que o elegeu, você só vota nos bons; se seu time joga mal e perde o jogo, a culpa é do juiz...
Na hora de assumir as próprias culpas ou de não cobrar devidamente o cumprimento das leis ou a confecção de leis mais duras contra todas as bandidagens, a culpa é sempre da passividade alheia. Chega a ser engraçado ver os legisladores culparem as leis, como se fossem outros e não eles os eleitos para legislarem.
Nessa pipoca geral a impotência individual nos faz deixar pra lá.
©Marcos Pontes