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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Retro e expectativa

Toro1

Nada de maldizer o ano que se acaba, como se nada tivesse dado certo, estivesse sem saúde, sem emprego, sem comida, sem teto e com o coração desprezado. Também, por ter esses direitos básicos e mais um pouquinho, vou louvar 2011 como um ano abençoado que me deu tudo o que preciso, embora não tenha dado tudo o que desejo.

Como todos os anos, ofereceu coisas excelentes, algumas mais ou menos e outras terríveis. E daí? Ces’t la vie e não o ano. O tempo não nos dá nada além de tempo, as demais coisas vêm por trabalho, acaso, coincidência, dádiva divina ou seja lá por que indecifrável caminho, o resto é herdado ou conseguido a fórceps.

No decorrer do ano, num país ingrato com os filhos que o constroem e administrado por mentirosos contumazes apoiados por desonestos compulsivos, o que de bom aconteceu foi por conta do esforço individual, uma vez que não temos esforço coletivo no Brasil. As associações de classe, sindicatos, federações e outros bichos que tais, são corporativistas, fisiológicos e jamais preocupados com o todo, com a melhoria de vida de todos os brasileiros. As coisas ruins, porém, são alimentadas por essas mesmas entidades que não conseguem dizer não ao governo nada popular, mas muito populista, que engana com um sorriso no rosto e os bolsos lotados.

 

Janeiro

- Dilma assume. Aos poucos tenta desligar-se da imagem de seu antecessor, mas termina dezembro sem ter, de fato, tomado as rédeas do país, sujeitando-se à malfadada base de apoio, formada por um saco de gatos e ratos.

- Em seu discurso de posse, assume uma “luta obstinada contra a pobreza” o que na prática significa “luta feroz contra a riqueza”, receita em prática em todo o mundo. Tornou-se um perigo ser rico nos dias atuais.

-Sindicância isenta Erenice 6% de culpa de tráfico de influência e enriquecimento ilícito, nepotismo e outros desvios éticos e morais.

- STF determina desarquivamento do caso Battisti, um joguinho de cena para ratificar tudo o que decidira antes e manter o assassino italiano sob a proteção do sindicato de ladrões em que se transformou o Brasil.

- Em Minas Gerais 16 pessoas morrem devido às chuvas. Esta pode não ser uma das principais notícias do ano, mas ao repetir-se, mês após mês, em vários estados, do Rio Grande do Sul a Pernambuco, passando por Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo, e por ser manchete recorrente ano após ano, fica patente que nada é feito para minimizar os danos das chuvas e evitar mortes. Centenas de brasileiros poderiam ter suas vidas mantidas e suas famílias seriam poupadas das dores se obras e fiscalização para evitar construções em áreas de risco fossem praticadas.

- Falhas no Sisu, Sistema de Seleção Unificada, do MEC, derruba o presidente do Inep. Mesmo erros ocorrendo ano após ano nas avaliações nacionais do MEC, Haddad, o incompetente e despreparado, continua intocável. Dá a presidência do Inep para uma pedagoga companheiríssima, vermelha até a medula.

 

Fevereiro

- Detectadas falhas, ou seja, fraudes, no seguro desemprego, o que leva a serem divulgadas novas regras em dezembro. Por outro lado, por não haver fiscalização eficiente e moralizada no programa de compra de votos, as safadezas na Bolsa Família continuam diante das vistas cegas do governo.

- O Ministério Público-RJ não abriu denúncia contra o ex-chefe da Polícia Civil, Allan Turnowski, que teria passado informações das operações policiais traficantes. Esta é mais uma demonstração que o estado do Rio de Janeiro está moralmente falido. Seguindo a receita do govewrno federal, Cabral faz joguinhos de cena, medidas populistas, prende quem mija em postes e faz disso propaganda oficial, ao mesmo tempo em que aplica a política de “espalha bandido”. São poucos os presos, um ou outro chefão para engrossar a publicidade, mas a máquina criminosa não é desmantelada, apenas muda de lugar e é exportada para outros estados, num irresponsável jogo de empurrar com a barriga.

- MP-MG abre ação contra o senador Clésio Andrade, do PR, por “irregularidades” no uso de R$ 60 milhões da Confederação Nacional dos Transportes. É apenas a ponta do iceberg podre que se esconde atrás da estrutura viciada dos transportes.

- A pseudo-oposição impetra ação no STF, a cara petista da Justiça, contra a decisão da presidente de reajustar salário mínimo por decreto. Filminho para inglês ver.

 

Março

- É divulgado vídeo em que a toda inocente deputada Jaqueline Roriz recebia dinheiro do todo justiceiro Durval Barbosa para seu caixa 2. Seus pares parlamentares, que sabem tudo de imoralidade e caixa 2 a inocentaram em votação no segundo semestre das acusações de falta de decoro parlamentar. Não por ter sido falta de decoro, mas por ela ainda não ser parlamentar na época das gravações. Inventaram o foro privilegiado para pré-parlamentares.

- Ocorre a tsunami no hoje quase totalmente reconstruído Japão, ao contrário do que ocorre nos flagelos anuais brasileiros. Nossa falta de vergonha é tão grande que o ministro Mercadante, no início do verão, ao invés de tranqüilizar as populações na áreas de risco de enchentes e desmoronamento aplicando verbas na prevenção dos males, afirma aos jornais que mais brasileiros morrerão com as próximas chuvas e isso é inevitável.

- Kassab cria o PK, partido do Kassab, também conhecido como PSD, muito longe de ser o moralista PDS dos bons tempos.

- O STF, numa demonstração que o desejo popular foi feito para ser desprezado, enterra a Lei dos Fichas Limpas. Para arrematar, em dezembro empossa Jáder Barbalho, o mesmo calhorda que há dez anos pediu renúncia ao ser cargo de parlamentar para não ter seus direitos políticos cassados.

- Morre o herói de barro José Alencar, ex-vice presidente. O dono das províncias de Maranhão e Amapá, não.

 

Abril

- Vítimas das enchentes no início do ano, no Rio, voltam para suas casas interditadas, esquecidas pelo estado.

- Maluco mata 11 crianças em escola no Rio. A escola tinha câmeras de segurança, mas não tinha qualquer segurança.

- Dilma vai à China vender minério de ferro e importar bugingangas.

- Marinha francesa, dois anos depois do acidente do avião da Air France, começa a resgatar corpos que o ex-presidente, numa de suas corriqueiras bravatas, disse que resgataria com facilidade, uma vez que conseguimos retirar petróleo de 7 mil metros de profundidade. Com sua insesibilidade, usa pessoas mortas como propaganda para o ainda inexplorado pré-sal, de olho na capitalização do saco sem fundo em que se transformou a Petrobras.

- Raul Castro propôs a limitação de mandatos em dois períodos de 5 anos. Isso não é nenhuma bondade democrática, apenas permitindo-se a vitaliciedade. Ah, os vermelhinhos e suas promessas popularescas.

- É anunciada uma rede, bancada pelo Banco do Brasil, para recolhimento de armas. Oito meses depois, mais de 35 mil armas são retiradas das mãos de cidadãos comuns, os assassinatos, porém, multiplicam-se e ninguém se dá ao trabalho de analisar esses dados. Civis desarmados são presas fáceis para bandidos.

- Rui Falcão é eleito presidente do PT. Se bem que eleição no PT é como eleição na União Soviética, em Cuba ou no Irã. Os caciques indicam um nome e o rebutalho vota sem oposição.

 

Maio

- Morre Bin Laden árabe, mas não o Bin Laden maranhense.

- Alagoas e Pernambuco têm mais de 100 mil desabrigados pelas chuvas.

- STF reconhece união estável entre homossexuais.

- Como um ENEM só já está dando dinheiro para gráficas particulares, Correios, Inep e sabe-se lá a quanto mais gente, o MEC anuncia que em 2012 serão dois exames.

- Anunciada a estratosférica multiplicação por 20 da fortuna de Palocci em apenas 4 anos. Só loteria para pagar prêmios tão bons.

- Honda demite 400 em São Paulo e reduz produção em 50%. No rastro, Grendene fecha fábrica no Rio Grande do Sul e a transfere para a China – efeito da viagem da presidente àquele país? – e Azaleia começa o processo de transferência de sua fábrica baiana também para a Ásia. E a patuléia continua cantando o crescimento nacional.

- Dilma suspende, mas não proíbe, a distribuição do kit-gay nas escolas. Os milhões gastos em sua elaboração multiplicar-se-ão em sua reformulação.

- Saboreando sua onipotência, Sarney tenta reescrever a história e tira da galeria de fatos históricos do Senado o impeachment de Collor, a quem defende como seu sucessor como presidente do Senado. A presidência é pouco para este senhor, de agora em diante, ou a divindade ou nada.

 

Junho

- Dilma anuncia pacote de R$ 700 milhões para região serrana fluminense, assolada pelas chuvas no início do ano. Este dinheiro é importante? Sim, claro, mas é paliativo em sua maior parte. É dinheiro para cobrir a cabeça, descobrindo os pés. Dom Pedro II já sabia o que deveria ser feito em relação à urbanização daquela área, mas parece que nossos engenheiros e modernos não estudaram a respeito, sem falar nos gestores públicos que não têm a mínima idéia de como gerenciar o problema.

- Bombeiros invadem quartel no Rio reivindicando melhorias salariais e de trabalho. São ignorados em seus pedidos e ofendidos verbalmente pelo governador, que deveria ser mediador e não agressor.

- Antecipando-se a Lupi, El Loco Chávez diz que Dilma roubou seu coração. Será que o coração do ditador estava no cofre do Adhemar?

- Palocci, 32 dias depois do anúncio de seu inexplicável enriquecimento, pede afastamento do ministério. Se dependesse de sua chefe, jamais sairia.

- Gleisi Hoffman, num inédito caso de nepotismo descarado, assume a Casa Civil, enquanto o marido mantém-se na pasta das Comunicações. E ninguém fala nada e todos fingem que não percebem.

- STF, como era de se esperar, mantém a decisão de Lula sobre Battisti, recusando recurso do governo italiano.

- STF libera manifestações pela legalização das drogas. Poderia aproveitar o momento e lançar a campanha: Diga sim às drogas, adote um ministro do Supremo.

 

Julho

- Morre Itamar. Sarney pega na alça do caixão, mas sem a menor intenção de entrar nele.

- Cai Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes de malas pretas.

- Kassab dá incentivo fiscal para construção do estádio do Corinthians. Cidadãos de todas as torcidas bancam estádio de um clube só e todos aceitam caladinhos. País de lebres e ratos.

- Ocorre o massacre na Noruega. Para nossa infelicidade, Sarney é velho demais para fazer parte do encontro de jovens do partido político atacado pelo maluco.

- Morre Amy Winehouse, mas não El Bigodón.

- Cai Pagot, do Denit. Não é ministro, mas merece entrar nas lista.

 

Agosto

- Prefeito de Teresópolis, do PT, é claro, é afastado depois que um cidadão comum fez denúncias de desvio de verbas destinada a flagelados das chuvas. Cada cidade brasileira precisa de, pelo menos, uns três cidadãos como este.

- Jobim, da Defesa, cai em desgraça depois de falar verdades sobre seus companheiros de ministério e assumir que votou em Serra. Nunca a revista Piauí vendeu tanto. Logo depois recebe o pedido de sua chefe para que peça demissão. Ela não demite ninguém.

- O megalômano Celso Amorim assume a Defesa. Espero a declaração de guerra aos Estados Unidos a qualquer momento, desde então.

- Secretário executivo do Ministério do Turismo é preso por desvio de verbas. Pergunte aí se continua preso ou se devolveu o dinheiro desviado.

- Wagner Rossi, ministro da Agricultura, pede demissão depois de denúncias de roubos no ministério. Agora, pergunte aí se foi preso ou se devolveu o dinheiro desviado.

- Jaqueline Roriz é inocentada por seus pares, não apenas de legislatura, mas também de caixa 2.

 

Setembro

- Estudantes se mobilizam no Piauí durante cinco dias e impedem aumento nas passagens de ônibus. É lógico que a grande mídia não noticiou. Vai que a doença prolifera e os cidadãos de todos os estados resolvem se rebelar contra os abusos.

- No desfile de 7 de setembro, dezenas de milhares protestam em Brasília, São Paulo, Salvador, Fortaleza e várias outras capitais contra a corrupção e pela moralidade no trato da coisa pública. Houve algum efeito prático? Não, fomos todos solenemente ignorados pelas autoridades. Colocamos o rabinho entre as pernas e voltamos à nossa ignóbil posição de palhaços pagadores de impostos.

- Somente 13 (definitivamente o número do azar) escolas públicas colocam-se entre as 100 melhores na avaliação do ENEM. Isso comprova que não bastam cotas para negros, pobres e oriundos de escolas públicas para que ascendam socialmente, é preciso, antes de qualquer coisa, reformar toda a educação pública nacional. Mas isso dá um trabalho, né, Haddad? Né, pedagogos e “educadores” de esquerda? Né, politicamente corretos e erroneamente viventes?

- Cai Pedro Novais, o ministro-Viagra do Turismo.

- Morreu Cleto Falcão, o segundo-homem do caixa 2 de Collor. Mas o onipotente Sarney, senhor todo poderoso de todas as caixas e cofres, continua faturando.

- A ministra baranga tenta suspender comercial com Gisele Bündchen. A arrogância esquerdista não tem desconfiômetro e continua tentando, passo a passo, calar as vozes discordantes. Por sorte, muita sorte, ainda temos algumas vozes resistentes.

- STF faz Maluf, o intocável, réu por “suposta” lavagem de dinheiro. Se este senhor tivesse sido condenado e punido em unzinho que fosse dos seus milhares de processos, talvez diminuísse um micronésio nossa sensação de que completa impunidade aos safados federais e seus coligados.

 

Outubro

- Morreu Steve Jobs, um dos poucos homens na história da humanidade que mudaram os rumos do mundo.

- Mais uma ratada do ENEM e o inabalável Haddad. Questões da prova haviam sido mostradas a professores um ano antes e, óbvio, num país de desonestos, as questões vazaram. Lógico que MEC e seu braço Inep culparam as escolas e professores pelo vazamento, quase ninguém contestou, porém, a obrigatoriedade do ineditismo das questões.

- Cai Orlando Tapioca Silva, ministro dos Esportes, depois de muitas falhas administrativas e milhares de contratos duvidosos, inclusive com ONG de sua própria esposa.

- Maconheiros invadem prédio da USP. A desculpa é a truculência da PM, mas o fato que é apadrinhamento pelo DCE, UNE e sindicato dos servidores da universidade aos três maconheiros fantasiados de estudantes flagrados pela polícia com drogas dentro do campus.

- Divulgado o câncer eleitoreiro do ex-presidente.

 

Novembro

- Mais de 60 maconheiros e estudantes profissionais são detidos na reintegração de posse do prédio da USP. Em dezembro, cinco deles são expulsos. De vez em quando a gente vê autoridade com coragem de enfrentar bandidinhos privilegiados sem medo de fazer as leis serem cumpridas.

- Anunciada a candidatura de Haddad à prefeitura de Sampaulo. O segundo poste seguido que o ex-presidente, o inominável, tenta eleger. Neste caso há uma atenuante: os demais candidatos. Se ganhar Haddad, Serra (o menos mal), Russomano, Netinho de Paula, Chalita (que eu aposto que abrirá mão da candidatura para apoiar Haddad às custas de alguns trocados, a vice-prefeitura ou cargos) ou seja lá quem for, a cidade estará muito mal de administrador.

- Justiça bloqueia bens de Kassab. Coincidência isso ocorrer logo após o lançamento da candidatura de Haddad? Coincidência Kassab abrir-se para apoiar Haddad, pouco depois, em dezembro? Coincidência os bens do prefeito serem desbloqueados e o caso da ispeção veicular sair das manchetes dos jornais?

 

Dezembro

- Governo resolve prorrogar por mais 12 meses a mentira do desarmamento como remédio para acabar com os assassinatos. Que pedreiro entregaria sua pá ou carpinteiro entregaria seu serrote, sua ferramenta de trabalho, para o governo? Como esperar, então, que bandidos entreguem, por R$ 100,00 sua arma que pode render-lhe mais do que isso diariamente? Sem falar que o número de mortes por armas de fogo cresceram em razão inversa ao número de armas entregues.

- O ministro Pimentel, Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, vem para a berlinda. Seguindo os passos de Palocci, multiplica sua fortuna por meio de consultorias, que também pode ser lido tráfico de influência e informações privilegiadas. Ao contrário de Palocci, que fazia parte da cota do inominável ex-presidente, Pimentel é amiguinho de longa data da atual. Panfletaram juntos, assaltaram juntos, treinaram com armas juntos. Este não cairá na prometida reforma do ministério que deverá ocorrer em janeiro/fevereiro.

- Parlamentares, como em todo dezembro, preparam reajuste de salário acima da inflação. Privilégio de poucos, aqueles pouquíssimos que têm as chaves do cofre.

- Estudo europeu mostra que Brasil é sexta maior economia do mundo. Oh, que legal!, diz meu ufanismo. E daí?, pergunta meu duro realismo. A diminuição da pobreza dá-se por conta de maquiagens e empobrecimento da classe média; a indústria desacelera; os impostos alcançaram a mesma marca de arrecadação do ano passado em outubro, o que projeta uma carga tributária 30% maior do que a do último exercício fiscal; continuamos exportando matéria prima, ou commodities segundo o linguajar moderno, e importando produtos manufaturados; os juros da dívida interna estão assustadoramente altos, mais altos do que os que pagávamos ao vilão FMI de quem a esquerda propagandeia feliz que nos salvou de suas presas em nossa jugular... Sem falar que é fácil bater em cachorro morto. Em dezembro de 2010 as estimativas do governo era que o Brasil cresceria 4,5% (basta procurar os jornais da época para confirmar) e crescemos apenas 2,8%, o que não é crescimento real, apenas crescimento vegetativo. O falso crescimento que mantém o mesmo patamar do ano anterior. Já a Europa não cresceu. Estagnou ou regrediu, ou seja, não crescemos, os países que se colocavam à nossa frente é que regrediram. Podemos dizer que entre os ruins somos os melhores. Agora a projeção de crescimento para 2012 é de 3,4%, ou seja, mantida a proporção, cresceremos 2,11%. Em dezembro de 2012 lhes direi quem está certo, o governo ou eu.

- Anunciado o câncer de tireóide de Cristina Kirchner, causando um alerta ao governantes sulamericanos: participar do Foro de São Paulo e presidir ditaduras em banho-maria, causa câncer. Depois de Lugo, Chávez, Castro, Dilma e o inominável, agora La Kirchner.

 

Quanto às expectativas para 2012, não se assustem, mas não as tenho. Há muitos anos deixei de criar expectativas, desde que descobri que a desilusão só acontece quando se há uma ilusão anterior, a decepção só ocorre quando há confiança prévia. Vivendo no país em que vivemos, sob a direção dos homens e mulheres que nos governam, é suicídio confiar, ter esperança e ilusões.

Nos resta a força dos braços e das palavras para continuarmos trabalhando dia-a-dia, sol a sol, e a palavra para continuarmos nos opondo àquilo que julgamos injusto e danoso para o país e seus concidadãos.

Desejo porém, tenho. Que o Brasil continue igualzinho a 2011. Paradoxo depois de tudo o que foi escrito aí em cima? Não, medo. Como o país só vem piorando em sua moralidade, ética, transparência, democracia e honestidade, ano após ano, se em 2012 nos mantivermos na lama em que nos encontramos já será um ganho. Ou isso ou continuaremos piorando.

 

Excelente 2012 a todos!

 

©Marcos Pontes

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

E-mail aos juízes

juiz de toga

O e-mail abaixo enviei para o STF, para os juízes do STJ e para os conselheiros do CNJ. Por não conseguir os e-mail dos juízes do STF e do Conselho da Justiça Federal, enviei para o próprio site, o que dificilmente permitirá que chegue às mãos dos juízes, mas, como somos vigiados 25 horas por dia, imagino que chegará aos seus ouvidos.

 

Excelentíssimos senhores juízes,

O que está acontecendo com a tão propagada democracia representativa de que fala nossa Constituição Federal se os concidadãos brasileiros não se vêem representados?

O que se passa com a independência dos Poderes da República se o que vemos diariamente nos jornais é a política do “tome-lá-dá-cá” que nos identifica como país? Se o Executivo legisla por decretos, o Judiciário legisla por portarias e outros expedientes e o Legislativo finge que legisla, dando-se apenas ao trabalho do joguinho de cena para aprovar o que for de interesse do partido que manda e desmanda e seus partidos satélites, verdadeiras máquinas de fazer dinheiro e fortuna de seus líderes?

Não tenho procuração de falar em nome de todos os brasileiros – quem tem essa procuração são vossas excelências e as demais autoridades dos outros dois Poderes - , mas, como um deles, posso dizer-lhes que me sinto ofendido com a vigilância que sofro dos órgãos oficiais a cada passo que dou enquanto vejo as autoridades nadarem de braçada no oceano sem fim de lama que nos afoga.

O Estado invade minha casa me proibindo de dar palmadas em meus filhos, mesmo já existindo ampla legislação sobre maus tratos, abandono e sevícias contra as crianças; tenta proibir meu desejo de fumante, mas tenta legalizar o uso de psicotrópicos; ameaça me processar de homofobia, mas tenta permitir a pedofilia como livre escolha do cidadão (não seria a agressão sexual crime muito mais odioso e imperdoável contra a criança do que uma palmada educativa dos pais?). Enfim, o Estado diz-me e exige que me porte segundo os desejos dos ocupantes ocasionais da cadeiras de comando, mas não faz seu dever de casa no tocante a moral, ética, lisura, probidade, respeito ao bem público e o bem estar comum.

Cansamo-nos, excelências, de ver a morosidade da Justiça, as ilegalidades do Executivo e os privilégios legais de legisladores e criminosos comuns enquanto ficamos trancafiados e vigiados todo o tempo pelos olhos grandes do Big Brother Estado sem ver a mesma vigilância e fiscalização, muito menos qualquer punição efetiva, dura e merecida daqueles que nos furtam diariamente.

Cansamo-nos de ver a Carta Magna da nação ser vilipendiada cada vez que os interesses pessoais, partidários e fisiológicos de nossos mandatários colocam-se acima dos interesses saudáveis da sociedade. Doi-nos ver a imprensa fazendo o papel de polícia que o Estado não faz, o papel de fiscal que os organismos de fiscalização legais não fazem, e a Justiça não ser feita enquanto finge que funciona levando marginais togados ou de terno e gravata saírem impunes porque seus crimes caducaram. Envergonha-nos ver os “malandros federais”, como cantou o poeta, ao serem flagrados, punidos com a devolução do que desviaram do erário e não cumprirem a pena, parecendo a Justiça com o pai que ao flagrar o filho cometendo uma falta grave, e agora impedido de repreendê-lo com uma palmada, chama-o ao canto e resume-se ao pequeno sermão “menino feio, não faça mais isso”. Ora, excelências, com falta menos graves do que desviar milhões dos cofres públicos, qualquer cidadão estão sujeito à execração pública enquanto que os maiores ladrões do país desfilam em carros oficiais, moram em valiosíssimos imóveis bancados pelo público, deslocam-se em caronas de aviões de amigos que cobraram o favor com benesses às custas do erário, ganham vencimentos declarados muito acima de média do brasileiro comum – termo que expressa bem a atual realidade de separar os cidadãos brasileiros em castas, sendo vossas excelências componentes da mais alta e intocável casta, inimputáveis, isentos de prestação de contas de seus atos, irrepreensíveis em sua onipotência.

E por que não nos rebelamos, poderiam vossas excelências perguntar? A resposta não é agradável: porque temos medo!

Temos sido tratados como incompetentes que precisam de tutela, em contrapartida, não podemos nos rebelar e a punição normalmente não vem seguindo as leis, mas nas ameaças privadas, nas covardes perseguições diárias, no linchamento de nossa moral, nos cancelamentos de contratos, na extorsão por taxas e impostos e, não raro Brasil a dentro, pelo cano das armas de pistoleiros.

Temos medo como o tem os moradores de países sob ditadura. Não espero condescendência e nem crédulo de sua parte, visto que vossas excelências, em sua quase totalidade, ocupam a toga que vestem por indicação de seus amigos políticos, independentemente de seu vasto conhecimento das questões jurídicas, salvo esta ou aquela exceção, mas todos devedores de favores aos chefes do Executivo e seus correligionários legisladores. A velha e constitucional política do “tome-lá-dá-cá”. Voltando às ditaduras, todos fingem não ver que a nossa vem-se instalando paulatinamente, relegando os cidadãos à condição de pagadores de impostos ou beneficiários das bolsas sociais, com amplo direito a voto e nenhum direito a voz, este privilégio só é dado aos seus pseudorrepresentantes.

Assim fenece nossa democracia representativa, com a eleição direta ou indireta, como o caso de vossas excelências, escolhidos a dedo pelo corporativismo e fisiologismo de nossos presidentes e a covardia de nossos parlamentares. Nós, os pagadores de impostos anônimos, temos que prestar conta de nossos atos, do salário que recebemos à palmada que damos em nossos filhos, enquanto nossos “representantes” podem esconder-se atrás das inexpugnáveis caixas pretas de suas funções, como o Poder Judiciário, mais secretos que os cultos maçônicos, mais desconhecidos do que a fórmula da Coca-Cola, mais misteriosos do que as profecias de Nostradamus.

Desculpem, excelências, pela indiscrição deste servo do feudo Brasil em que a aristocracia intocável e os togados divinos não podem ter máculas em suas vestes, não podem ter seus atos e decisões discutidos, sua lisura suspeita, sua grandeza duvidada, mas como um cidadão solitário nesse deserto da ignorância cansou-se do silencio, mesmos sabendo que meus gritos continuaram sem eco diante de seus ouvidos moucos, que meus questionamentos continuarão sem resposta, como sempre ficam minhas mensagens dirigidas às autoridades.

 

©Marcos Pontes

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Constituinte, a nova arma vermelha

PT 13

Os cardeais petistas têm uma característica comum – o que leva qualquer detetivezinho formado por correspondência a desconfiar de que está decidido entre quatro paredes – que seria louvável se suas intenções fossem nobres: a persistência.

Por vinte e poucos anos repetiu, repetiu, repetiu, até que a maioria dos eleitores acreditaram que esses cardeais regiam o único partido honesto, democrático e defensor dos interesses populares. Os mais desconfiados, os mais conhecedores da história e das mentiras da esquerda e os que conheciam o mínimo da biografia desses messias de intenções duvidosas tiveram que dar um suspiro fundo, capitular (como muitos fizeram) e voltar à batalha contra a corja vermelha.

Eleitos em 2002, tinham câmeras, microfones, jornais, sites, revistas, as chaves do cofre da viúva e um exército de sectários para espalharem suas mentiras fantasiadas de tábua de salvação do país e da humanidade. Nesse exército, agora cibernético, os militantes de camisa vermelha ou batas indianas, botons no peito, barba ao estilo velho Lula e os novos petistas, terninho Armani, barbinhas bem desenhadas por barbeiros (qual o correspondente a barbeiro de homens ricos ou candidatos a?) e salários superiores aos de generais, como o Luís Nassiff e Panúnzio. Tá, Luís Favre e PHA não têm barba, só os salários injustificáveis, mas os cardeais também vêm diminuindo as barbas paulatinamente para cavanhaque, como mostra o Berzoini, bigode à moda Mercadante ou Grenhalgh ou cara lisa, mostrando a cara de pau.

Insistem, há nove anos, na necessidade de “regular” a imprensa, que na língua de absolutistas de qualquer planeta significa “censurar”. Viram suas intenções derrotadas por, pelo menos, quatro vezes nesse período, mas não desistem. Os caras são teimosos. Podem esperar mais vinte e poucos anos para conseguirem e enquanto o dia não chegam, insistem na mentira, martelando dia a dia na cabeça do iletrado eleitos até que este chegue à conclusão de que a censura é deveras necessária e essencial para a democracia.

A bem da verdade, impossível elencar todas as mentiras insistentemente repetidas pela gangue vermelha, mas no momento chama a atenção a volta da proposta de uma Assembléia Nacional Constituinte. A simples idéia neste momento é assustadora.

Em seus 122 anos de República, o Brasil nunca teve uma Constituição tão esquerdista, mesmo assim o PT recusou-se a assiná-la, lembram-se? A atual Carta Magna é direitista ou conservadora demais para ele?

Não é a primeira vez que o assunto vem à pauta só que agora ocorre num momento perigoso. Os caras estão mandando e desmandando no país, o Executivo legisla mesmo contrariando plebiscitos, como no caso do desarmamento, proposta recusada por mais de 60% do eleitorado. O Judiciário legisla, como no caso da lei dos Fichas Limpas. O Legislativo finge que legisla e apenas diz amém para as ordens vindas do Palácio do Planalto. Eles podem fazer isso, afinal de contas têm maioria no parlamento federal, na maioria absoluta das assembléias estaduais e, de quebra, nas câmaras de vereadores Brasil a dentro. A imprensa não faz notícias, repete os releases enviados pelas assessorias de imprensa dos políticos. O eleitorado não pesquisa, não estuda, evita pensar, essa coisa trabalhosa que deve se restringir a intelectuais e mandatários políticos.

Uma Constituinte neste momento seria a derrocada irreversível da direita, já tão combalida, quase extinta, do bom senso, artigo em falta, da visão de crescimento mesmo que tenhamos empacado em 2,8% em 2011, do capitalismo que constrói infraestrutura, gera emprego, produz alimentos, aumenta a renda real a duras penas.

Ver Marco Maia aparecer nos jornais defendendo a proposta é sinal de alerta. O rebutalho de barbas rotas, língua presa, cérebro de papagaio e batas indianas vai começar a espalhar a urgência de uma constituinte, tendo o respaldo dos “intelectuais” assalariados – Nassiff, Favre, PHA e Panúnzio – como o recurso final para acabar com a pobreza e a miséria. De quebra, não haverá impedimento para se colocar a censura como uma pressogativa legal do governo central, como gostam de chamar o governo federal os comunistas herdeiros de Stálin.

 

©Marcos Pontes

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Preguiça e o vício da esmola

preguiça

Cumprindo a promessa feita à @opcao_zili de escrever um texto sobre “o povo”:

 

Sempre tem alguém vendendo terreno na Lua e alguém querendo dar-se bem e compra. O conto do vigário, o golpe do prêmio de um milhão, o golpe do celular, o joguinho da concha, o golpe da loteria premiada contam com dois fatores latentes na personalidade do brasileiro médio: a vontade de dar-se bem com o mínimo de esforço, pouco preocupando-se se alguém será lesado; a ambição. Meu pai costumava definir assim, na sua simplicidade de caboclo interiorano esta lei da oferta e procura: “se aparece um esperto pra vender bosta em pó, sempre aparecerá um otário para comprar”.

Tratar o subjetivo “povo” como coitadinho é alimentar essa prática idiota. Na condição de povo nesses tempos politicamente corretos, ficamos cheios de dedos para lhe imputar responsabilidades que são suas. Não bastasse a Constituição Cidadã, que encheu os cidadãos de direitos sem cobrar deveres na mesma proporção, ainda caímos na besteira de eleger governo após governo, mormente nos últimos oito anos, que nos tratam como incompetentes que precisam da tutela estatal para tomarmos as mais corriqueiras decisões sobre nossas vidas.

O prefeito de São Paulo não promulgou a lei que estabelecia o “dia do orgulho hétero” por considerá-lo inconstitucional, no que concordo plenamente, mas não teve coragem de opor-se ao dia do direito homo. Com medo de perder votos, nenhuma autoridade entrou na justiça contra o sistema de cotas em concursos públicos, inconstitucional do mesmo jeito, uma vez que considera alguns cidadãos diferentes de outros e, por isso mesmo, privilegiados. Já não bastam Lula e Sarney considerarem seus cúmplices flagrados com a mão na botija considerarem esses bandidos seres acima dos demais humanos? O Congresso, formado por uma maioria incompetente que não sabe a diferença entre legislador e Deus, não ousa opor-se a bolsa presidiário que paga valores mais altos a bandidos condenados do que a engenheiros desempregados que recorrem ao seguro desemprego.

Não são raros os casos de candidatos a vereadores que prometem absurdos, como pena de morte ou limite de juros anuais em suas campanhas eleitorais e são eleitos por analfabetos jurídicos que esquecem em quem votaram, não lembram das promessas feitas e furtam-se de cobrar dos eleitos aquilo que prometeram.

Em defesa da bolsa presidiário recebi de um tuiteiro a justificativa: se não sustentarmos os filhos dos presidiários, estaremos condenando-os às mesmas condições marginais do seu pai. E por que a responsabilidade seria nossa, da totalidade da sociedade? Todos nós conhecemos alguém que morava em condições subumanas, analfabetos, mas trabalhadores que não passaram a vida lamentando-se das agruras que a vida lhes reservou, arregaçaram as mangas, foram à escola e conquistaram condições de vida dignas pelo esforço pessoal. Já não bastam nossas próprias dificuldades em pagarmos nossas contas, sustentarmos nossas famílias, lutarmos diariamente pela nossa ascensão social para termos que abrir mãos de nossas suadas conquistas para dividirmos com os parasitas que adoram comprar terrenos na Lua, votar em messias sazonais e viverem escorados à espera que a vaca caia do céu?

Pagamos altos impostos para que o Estado dê a eles, e a nós todos, educação, saúde, moradia, transporte, saneamento básico, termos que pagar-lhes um salário além de todos nossos impostos e taxas é viciar o cidadão com esmolas, como já cantou Gonzagão há mais de trinta anos.

O povo merece respeito, não esmolas. Se a voz do povo é a voz de Deus, Deus tem falado muita besteira ultimamente e acreditado em políticos que se acham superiores a Ele, porque assim faz o povo que, cansado de rezar, prefere votar em seus algozes fantasiados de salvadores da pátria.

E já que estamos falando em Deus, não basta dizermos que acreditamos na Bíblia sem lê-la. Lá está escrito “faça sua parte e Eu te ajudarei”. Mas a um povo viciado em nada fazer e receber de graça as esmolas eleitoreiras que seus eleitos deixam cair da mesa do banquete, preferem nada fazer e esperar que a vaca, com o ubre cheio de leite quentinho, sem dar-se ao trabalho de aprender que vacas não voam.

 

©Marcos Pontes

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Cada macaco no seu galho

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Há um ano eu recebia como hóspedes um músico holandês, em sua primeira viagem ao Brasil, e sua namorada, atriz e dançarina brasileira, formada na PUC-SP, que estava concluindo seu mestrado em Amsterdã.

Por serem jovens artistas, era de se esperar que tivessem idéias socialistas – a propósito, os neo-socialistas rejeitam o termo, preferem autodenominar-se “progressistas”, dando a entender que o progresso é sinônimo de melhorias, quando seus antecessores, nos anos 60 a 80 do século passado, talvez para justificar o atraso tecnológico e social por que passavam os países por trás da cortina de ferro, condenavam o progresso ocidental como fator de destruição do mundo. Esse vício foi mantido nas gerações seguintes que condenam a grande produção de alimentos e de energia, preferindo condenar eternamente os países pobres e famintos à fome e à exclusão tecnológica.

Em nosso primeiro almoço, caí na besteira de criticar a intenção do MEC em censurar os livros de Monteiro Lobato e o juiz do interior paulista que havia proibido nas escolas livros clássicos da literatura brasileira, de José de Alencar a Clarice Lispector. A jovem bailarina sequer deixou eu concluir, partiu com fúria vermelha sobre minha argumentação. Recolhi-me à minha insignificância conservadora, debaixo do meu próprio teto e nunca mais troquei com ela conversa senão sobre temas banais. Fiz valer o conselho de Chesterton: “Jamais discuta com um louco, ele sempre tem razão”.

Com meu inglês incompreensível me permiti discutir cultura brasileira, música, impressões sobre o mundo. Como diz um sábio amigo, não conheço ninguém que tenha feito amizade ao redor de xícaras de café, ainda mais quando o interlocutor é holandês. Quando o papo ficava mal parado, abríamos uma cerveja, colocávamos um CD na vitrola e a conversa voltava a animar.

Apresentei a ele o chorinho, a viola mineira, o samba de coco, Elomar, Zeca Baleiro e mais boa parte dos meus preferidos. Sendo eu um papeador de um tema só, a política tinha que voltar à tona.

O rapaz me dizia que não acreditava nas fronteira políticas entre países, que pregava um mundo de fronteiras livres. Em contrapartida, coloquei-lhe um pulga do tamanho de uma capivara atrás das orelhas: Você nasceu na Holanda, estudou, seus pais pagaram taxas e impostos para que você tivesse boa educação, saúde, moradia, transporte, direito a seguro desemprego se viesse a precisar, universidade. Você tornou-se adulto e profissional e passou a pagar suas próprias contribuições ao fisco. De repente seu país é invadido por horda de estrangeiros, africanos e sulamericanos sem qualificação profissional, muitos deles ilegais segundo a legislação européia e a holandesa, em particular. Alguns criminosos e outros tantos apenas de olho no consumo inimputável de marijuana. Você acha justo que eles tenham todos os direitos civis e sociais que você conquistou pelo esforço e pelo dinheiro dos impostos? É justo que usufruam da estrutura que seu país construiu pela força, suor, engenhosidade e dinheiro de centenas de anos sem jamais terem colocado um paralelepípedo nos calçamentos de ruas? Da minha parte, eu não gostaria de ver imigrantes bolivianos, peruanos, moçambicanos terem os mesmos direitos que eu aqui no Brasil.

Passou-se um ano. Hoje a Dona Chica, minha mui digna e amada esposa, retribui a visita do casal e é hóspede dele em Bruxelas, onde a bailarina faz doutorado.

Steven, nosso amigo holandês, não perde a oportunidade de criticar os belgas. No melhor bairrismo que nós tão bem conhecemos, não furta-se em decretar que tudo na Holanda é melhor do que na Bélgica: a comida, o atendimento ao cliente, o sistema de transporte, a higiene, a hospitalidade, a economia, a educação e até a música.

Sabendo da conversa que eu ele tivemos sobre as fronteiras livres diante de sua crítica aos costumes, à falta de educação e à marra dos africanos que infestam as ruas de Bruxelas, Dona Chica não perdeu a oportunidade de perguntar se ele ainda defendia o multiculturalismo e as fronteiras livres. Ficou surpresa com a resposta. Ele admitiu que, por mais que queira ser socialista, a realidade tem-lhe mostrado que esse discurso é uma roubada, que antes de abrir suas portas para os invasores não tão pacíficos, deveria investir na melhoria dos países pobres para manter neles sua população e seus costumes. Que o governo belga está oferecendo mil euros para cada imigrante que quiser voltar ao seu país. Que o Brasil tinha mais é que construir Belo Monte para incentivar sua própria industrialização e a melhoria dos índices de emprego e renda do Alto Xingu.

Agora foi ele quem arrumou a briga com a namorada, uma imigrante brasileira que gostaria de ter os benefícios que os belgas têm na mesma proporção.

Ao ver um socialista tomar um choque de realidade e admitir que estava errado me faz voltar a ter esperança na humanidade.

 

©Marcos Pontes

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Eles

culpa-dele

O texto abaixo foi escrito e postado em junho de 2007 no meu blog misteriosamente colocado fora de combate. Hoje, ao pedir sugestão sobre tema para um texto, a tuiteira amiga @opcao_zili sugeriu que escrevesse sobre as más escolhas dos eleitores. Meu propósito era escrever algo original, mas este texto não me saía da cabeça, por isso preferi repostá-lo. Me desculpe, amiga.

Virá outro com um enfoque mais acusatório do que este benevolente com “o povo.

Quando um político é eleito, é eleito por todos os eleitores. O prefeito não regerá apenas a cidade daqueles que votaram nele, assim como o governador não governa apenas para seus correligionários ou o presidente é presidente apenas de seus simpatizantes. Cada um deles é responsável pela comunidade.

Historicamente, por conta do cidadão ser obrigado a ficar distante das rodas de decisão política com períodos de censura, ditadura, voto limitado aos ricos, ou apenas aos homens e aos alfabetizados, criou-se o hábito de alijar o homem do povo das decisões e resoluções. Nos cabia apenas esperar que definissem as políticas a serem executadas, baixarmos a cabeça e acatarmos.

No subconsciente coletivo isso não mudou. Criaram em nós o hábito de esperarmos que decidam por nós, que os governos façam nós aceitemos, gostando ou não. Para nós, o governo não é nosso, é “deles”, mesmo sem saber exatamente quem são “eles”.

Outro hábito de nós, brasileiros, é o de torcida. Torcemos por qualquer coisa. Talvez por ter sido esse o papel que nos deram na história. “Eles” faziam e nós torcíamos para que desse certo ou errado. Assim foi, por exemplo, com a campanha de vacinação contra a febre amarela, no Rio de Janeiro, encampada por Oswaldo Cruz. Alguém disseminou a idéia de que a vacina fazia mal à saúde, jornalistas desinformados compraram a idéia e a população dividiu-se entre os que torciam a favor e os contra a vacinação em massa. Quase houve uma guerra civil por causa disso.

O Brasil torce por seu time, torce que o próximo papa seja brasileiro, torce por sua miss, torce contra o time do cunhado chato, torce a favor e contra a seleção nacional, torce para que chova, torce para que seu candidato seja eleito, enfim, torce e, na maioria das vezes, sem sequer saber exatamente pelo que está torcendo, sem informações. Não que elas não hajam, elas estão nos jornais e revistas, mas o brasileiro lê pouco, por isso torce apenas baseado na reação do apresentador do telejornal. Se o cara faz cara boa, torce-se a favor; se o cara faz muxoxo, torce-se contra.

Quando juntam-se as três coisas, o escapismo, a torcida e a desinformação, acontece o que vemos à profusão hoje em dia. Tanto na vida real quanto na internética. É um tal de ver gente reclamando do povo que não sabe eleger, do povo que merece o que está acontecendo no país, do povo burro, do povo desinformado, do povo isso, do povo aquilo. O povo somos nós, cada um!

Quem vive reclamando do povo, está fazendo justamente o que desejam os donos do poder que engana o mesmo povo, as autoridades que culpam o povo pela desarrumação geral. Quando Guido Mantega vai aos jornais dizer que a culpa do caos aéreo é do povo que está viajando mais porque tem mais dinheiro nas mãos, certamente ele não está falando do mesmo povo que elegeu e reelegeu Lula. Os críticos do povo, aqueles que têm língua solta para xingar o povo pela sua decisão, são os que voam, pela sua própria lógica.

Esses críticos do zé-povim que dizem que Lula foi eleito por conta das bolsas-sociais ou bolsas-esmolas, se preferirem, são os usuários de aviões, os que resolvem passar um final de semana nas praias nordestinas ou um feriadão na Flórida. O beneficiário das bolsas sequer tem dinheiro para pegar um ônibus para visitar o avô doente em Quixeramobim. Ao criticar “o povo” pelas mazelas do desmando e da falta de autoridade, está se fazendo o que desejam as autoridades incompetentes e com rabo preso, está deixando de lado os verdadeiros responsáveis pela crise de segurança, de autoridade, de probidade no exercício das funções públicas, de saúde, de educação, de moradia, de transporte (e aí não falo do transporte aéreo, mas do cotidiano das cidades com ruas esburacadas, mal sinalizadas, sem veículos de transporte de massa...).

Colocar nas costas do povo a responsabilidade por um país caótico é dar salvo-conduto para os incompetentes no poder. Poderia canalizar essas energias desprendidas contra o zé-povim numa ação contra quem toma conta do puteiro.

Vá lá, digamos que o povo, os outros, é que são responsáveis pela eleição dos calhordas todos, Brasil a dentro. Mas não esqueçamos que esses calhordas são governantes de todos e cada um, não governam apenas para o zé-povim. Aliás, talvez esse seja o mais prejudicado. É o zé-povim que usa o sistema público de ensino, é ele que encara as filas da previdência, que mora em casebres na periferia, que encara horas diárias de ônibus para deslocar-se até seu subemprego. Quem o culpa por tudo o faz no conforto de uma cadeira acolchoada, no frescor do ar condicionado, em frente a um computador de última geração.

 

©Maros Pontes