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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Preguiça e o vício da esmola

preguiça

Cumprindo a promessa feita à @opcao_zili de escrever um texto sobre “o povo”:

 

Sempre tem alguém vendendo terreno na Lua e alguém querendo dar-se bem e compra. O conto do vigário, o golpe do prêmio de um milhão, o golpe do celular, o joguinho da concha, o golpe da loteria premiada contam com dois fatores latentes na personalidade do brasileiro médio: a vontade de dar-se bem com o mínimo de esforço, pouco preocupando-se se alguém será lesado; a ambição. Meu pai costumava definir assim, na sua simplicidade de caboclo interiorano esta lei da oferta e procura: “se aparece um esperto pra vender bosta em pó, sempre aparecerá um otário para comprar”.

Tratar o subjetivo “povo” como coitadinho é alimentar essa prática idiota. Na condição de povo nesses tempos politicamente corretos, ficamos cheios de dedos para lhe imputar responsabilidades que são suas. Não bastasse a Constituição Cidadã, que encheu os cidadãos de direitos sem cobrar deveres na mesma proporção, ainda caímos na besteira de eleger governo após governo, mormente nos últimos oito anos, que nos tratam como incompetentes que precisam da tutela estatal para tomarmos as mais corriqueiras decisões sobre nossas vidas.

O prefeito de São Paulo não promulgou a lei que estabelecia o “dia do orgulho hétero” por considerá-lo inconstitucional, no que concordo plenamente, mas não teve coragem de opor-se ao dia do direito homo. Com medo de perder votos, nenhuma autoridade entrou na justiça contra o sistema de cotas em concursos públicos, inconstitucional do mesmo jeito, uma vez que considera alguns cidadãos diferentes de outros e, por isso mesmo, privilegiados. Já não bastam Lula e Sarney considerarem seus cúmplices flagrados com a mão na botija considerarem esses bandidos seres acima dos demais humanos? O Congresso, formado por uma maioria incompetente que não sabe a diferença entre legislador e Deus, não ousa opor-se a bolsa presidiário que paga valores mais altos a bandidos condenados do que a engenheiros desempregados que recorrem ao seguro desemprego.

Não são raros os casos de candidatos a vereadores que prometem absurdos, como pena de morte ou limite de juros anuais em suas campanhas eleitorais e são eleitos por analfabetos jurídicos que esquecem em quem votaram, não lembram das promessas feitas e furtam-se de cobrar dos eleitos aquilo que prometeram.

Em defesa da bolsa presidiário recebi de um tuiteiro a justificativa: se não sustentarmos os filhos dos presidiários, estaremos condenando-os às mesmas condições marginais do seu pai. E por que a responsabilidade seria nossa, da totalidade da sociedade? Todos nós conhecemos alguém que morava em condições subumanas, analfabetos, mas trabalhadores que não passaram a vida lamentando-se das agruras que a vida lhes reservou, arregaçaram as mangas, foram à escola e conquistaram condições de vida dignas pelo esforço pessoal. Já não bastam nossas próprias dificuldades em pagarmos nossas contas, sustentarmos nossas famílias, lutarmos diariamente pela nossa ascensão social para termos que abrir mãos de nossas suadas conquistas para dividirmos com os parasitas que adoram comprar terrenos na Lua, votar em messias sazonais e viverem escorados à espera que a vaca caia do céu?

Pagamos altos impostos para que o Estado dê a eles, e a nós todos, educação, saúde, moradia, transporte, saneamento básico, termos que pagar-lhes um salário além de todos nossos impostos e taxas é viciar o cidadão com esmolas, como já cantou Gonzagão há mais de trinta anos.

O povo merece respeito, não esmolas. Se a voz do povo é a voz de Deus, Deus tem falado muita besteira ultimamente e acreditado em políticos que se acham superiores a Ele, porque assim faz o povo que, cansado de rezar, prefere votar em seus algozes fantasiados de salvadores da pátria.

E já que estamos falando em Deus, não basta dizermos que acreditamos na Bíblia sem lê-la. Lá está escrito “faça sua parte e Eu te ajudarei”. Mas a um povo viciado em nada fazer e receber de graça as esmolas eleitoreiras que seus eleitos deixam cair da mesa do banquete, preferem nada fazer e esperar que a vaca, com o ubre cheio de leite quentinho, sem dar-se ao trabalho de aprender que vacas não voam.

 

©Marcos Pontes

7 comentários:

  1. CARO MARCO

    ANDO ME PERGUNTANDO:: QUEM SÃO OS VERDADEIROS HIPÓCRITAS (fingidos, falsos) NESTE BRASIL VARONIL??????
    SEU TEXTO ME INDICANDO O CAMINHO PARA DESCOBRIR.....

    PARABENS!!!!!!

    Marisa Cruz

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  2. Realmente o "arroz com feijão" não é feita pela sociedade!

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  3. Perfeito, meu amigo.Só não gostei do que falou de Deus. Ele não tem culpa nenhuma deste povo que só quer "tirar vantagem", eleger mal.
    Essa atitude "politicamente incorreta"é que devemos tomar com plena consciência.
    Sabemos que, se não mudarmos essa cultura infeliz, nosso país vai pro brejo e nós juntos.
    Muito obrigada.É, justamente o que penso.

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  4. Marcos, eu acho que as pessoas (que parecem ser) politizadas, estão ligadas a algum partido político. E estas pessoas só querem tirar o partido que está no poder, para colocarem o delas. Não estão se preocupando em mudar alguma. Se assim fosse, já teríamos mudado muita coisa. Estou tentando fazer com que o povo repare no ato do dep. Reguffe, que abriu mão dos benefícios e ajudas de custo parlamentar, e fazermos um movimento para que os outros políticos façam o mesmo. Isso economizará muito dinheiro para os cofres públicos. Ninguém se pronunciou. Estou quase desistindo. Dê uma chamada aí, na sua coluna. Abraços

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  5. Excelente matéria. Enquanto isso, a inversão de valores em nosso outrora orgulhoso Brasil vai solapando o futuro de nossa sociedade. Criminosos, falsários, quadrilheiros vão posando de "governantes, vencedores, jornalistas". Que futuro aguarda as próximas gerações?

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  6. Prezado Marcos, muito bom seu blog. Se você me permite, inscrevi-me como acompanhante.
    Abraço.
    Antônio Machado

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  7. Marcos,

    O Brasileiro tem questões de formação complicadíssimas. Não me atreverei a discuti-las em um comentário de blog, mas é importante mencioná-las, até para justificar minha concordância com grande parte do que tu escreveste nesse post.

    Tenho por princípio enxergar com muita reserva a romantização ufanística do brasileiro, à "política do coitadinho", àquela mania de intelectuais de esquerda de elevar qualquer tremelique antropológicamente visível a um nível de arte, enfim... a toda uma série de práticas, que descobri ao ler o "Guia Politicamente Incorreto da América Latina", de Leandro Narloch e Duda Teixeira, não serem comuns apenas a nós tupiniquins, mas com pequenas diferenças, comuns a todos os latino-americanos.

    Penso que só a observação crítica de nós mesmos, a observação cuidadosa de nossa cultura e a de outras culturas, e um mínimo de inteligência poderiam salvar nosso "povão" de continuar chafurdando nesse mar de mediocridade. Mas para isso, há que se começar com o mínimo, que é a educação... e esperar isso em tempos de Ministro Haddad chega a ser ridículo... aí esbarramos no velho dilema que apresentei lá nos meus primórdios de participação no twitter:

    "Ética depende de Educação; Educação, de Vontade Política; Vontade Política, de Ética; e faltam as 3 no círculo vicioso chamado Brasil."

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