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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Cada macaco no seu galho

multiculturalismo-~-WKT013

Há um ano eu recebia como hóspedes um músico holandês, em sua primeira viagem ao Brasil, e sua namorada, atriz e dançarina brasileira, formada na PUC-SP, que estava concluindo seu mestrado em Amsterdã.

Por serem jovens artistas, era de se esperar que tivessem idéias socialistas – a propósito, os neo-socialistas rejeitam o termo, preferem autodenominar-se “progressistas”, dando a entender que o progresso é sinônimo de melhorias, quando seus antecessores, nos anos 60 a 80 do século passado, talvez para justificar o atraso tecnológico e social por que passavam os países por trás da cortina de ferro, condenavam o progresso ocidental como fator de destruição do mundo. Esse vício foi mantido nas gerações seguintes que condenam a grande produção de alimentos e de energia, preferindo condenar eternamente os países pobres e famintos à fome e à exclusão tecnológica.

Em nosso primeiro almoço, caí na besteira de criticar a intenção do MEC em censurar os livros de Monteiro Lobato e o juiz do interior paulista que havia proibido nas escolas livros clássicos da literatura brasileira, de José de Alencar a Clarice Lispector. A jovem bailarina sequer deixou eu concluir, partiu com fúria vermelha sobre minha argumentação. Recolhi-me à minha insignificância conservadora, debaixo do meu próprio teto e nunca mais troquei com ela conversa senão sobre temas banais. Fiz valer o conselho de Chesterton: “Jamais discuta com um louco, ele sempre tem razão”.

Com meu inglês incompreensível me permiti discutir cultura brasileira, música, impressões sobre o mundo. Como diz um sábio amigo, não conheço ninguém que tenha feito amizade ao redor de xícaras de café, ainda mais quando o interlocutor é holandês. Quando o papo ficava mal parado, abríamos uma cerveja, colocávamos um CD na vitrola e a conversa voltava a animar.

Apresentei a ele o chorinho, a viola mineira, o samba de coco, Elomar, Zeca Baleiro e mais boa parte dos meus preferidos. Sendo eu um papeador de um tema só, a política tinha que voltar à tona.

O rapaz me dizia que não acreditava nas fronteira políticas entre países, que pregava um mundo de fronteiras livres. Em contrapartida, coloquei-lhe um pulga do tamanho de uma capivara atrás das orelhas: Você nasceu na Holanda, estudou, seus pais pagaram taxas e impostos para que você tivesse boa educação, saúde, moradia, transporte, direito a seguro desemprego se viesse a precisar, universidade. Você tornou-se adulto e profissional e passou a pagar suas próprias contribuições ao fisco. De repente seu país é invadido por horda de estrangeiros, africanos e sulamericanos sem qualificação profissional, muitos deles ilegais segundo a legislação européia e a holandesa, em particular. Alguns criminosos e outros tantos apenas de olho no consumo inimputável de marijuana. Você acha justo que eles tenham todos os direitos civis e sociais que você conquistou pelo esforço e pelo dinheiro dos impostos? É justo que usufruam da estrutura que seu país construiu pela força, suor, engenhosidade e dinheiro de centenas de anos sem jamais terem colocado um paralelepípedo nos calçamentos de ruas? Da minha parte, eu não gostaria de ver imigrantes bolivianos, peruanos, moçambicanos terem os mesmos direitos que eu aqui no Brasil.

Passou-se um ano. Hoje a Dona Chica, minha mui digna e amada esposa, retribui a visita do casal e é hóspede dele em Bruxelas, onde a bailarina faz doutorado.

Steven, nosso amigo holandês, não perde a oportunidade de criticar os belgas. No melhor bairrismo que nós tão bem conhecemos, não furta-se em decretar que tudo na Holanda é melhor do que na Bélgica: a comida, o atendimento ao cliente, o sistema de transporte, a higiene, a hospitalidade, a economia, a educação e até a música.

Sabendo da conversa que eu ele tivemos sobre as fronteiras livres diante de sua crítica aos costumes, à falta de educação e à marra dos africanos que infestam as ruas de Bruxelas, Dona Chica não perdeu a oportunidade de perguntar se ele ainda defendia o multiculturalismo e as fronteiras livres. Ficou surpresa com a resposta. Ele admitiu que, por mais que queira ser socialista, a realidade tem-lhe mostrado que esse discurso é uma roubada, que antes de abrir suas portas para os invasores não tão pacíficos, deveria investir na melhoria dos países pobres para manter neles sua população e seus costumes. Que o governo belga está oferecendo mil euros para cada imigrante que quiser voltar ao seu país. Que o Brasil tinha mais é que construir Belo Monte para incentivar sua própria industrialização e a melhoria dos índices de emprego e renda do Alto Xingu.

Agora foi ele quem arrumou a briga com a namorada, uma imigrante brasileira que gostaria de ter os benefícios que os belgas têm na mesma proporção.

Ao ver um socialista tomar um choque de realidade e admitir que estava errado me faz voltar a ter esperança na humanidade.

 

©Marcos Pontes

2 comentários:

  1. É verdade, Marcos, enquanto não cai a ficha, os socialista defendem a sua ideologia com extremado ranço, com nuanças de azedume. Depois, quando resolvem usar o cérebro, percebem que estavam numa grande furada.

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  2. Os socialistas só querem fazer caridade com o dinheiro dos outros. Quando mexe no bolso deles, a coisa muda de figura.

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