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quarta-feira, 14 de março de 2012

Obras inacabadas e propaganda

dinheiro_privada

A propaganda de hoje é a obra inacabada de ontem.

As empreiteiras ganhavam licitações, quase nunca lícitas, apresentavam projetos magníficos, recebiam o dinheiro para executar as obras, mas, contando com a inflação alta como álibi e a eterna falta de fiscalização eficaz, simplesmente sumiam, deixando esqueletos espalhados pelos sertões ou construções com material de segunda qualidade e fortunas em paraísos fiscais, fantasiados de dólares. Não foram poucas as fortunas construídas dessa forma, não é, Maluf?

No governo de FHC esta prática passou a ser inibida, não com a eficiência desejada pelos pagadores de impostos, mas com a ameaça para os desonestos construtores. O efeito, que poderia ser saudável, refreou a construção da infraestrutura, numa demonstração nacional de que trabalhar é para otários e popularizando a máxima “quem trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro”.

As empreiteiras enriqueceram e levaram na carona os parlamentares, lobistas e executivos que intermediavam e liberavam o dinheiro, mas essa gente não se conformaria em deixar de ganhar depois de décadas e décadas de burras cheias. Como substituir a galinha de ovos de ouro assassinada pela Lei de Responsabilidade Fiscal e pela Super Receita que se desenhava? Precisavam de algo tão eficaz, rentável e que se diluísse no espaço, deixando poucos rastros e quase nenhuma impressão digital. A solução, a propaganda.

Hoje faz-se um comercial, desnecessário, sobre a inauguração de uma escola técnica no interior do Ceará. Contratam-se veículos de comunicação do Oiapoque ao Chuí, de Tabatinga a Cabo Branco, para espalharem a boa nova e muita gente, menos os estudantes do cartão, ganha com isso e ainda se tem o efeito colateral de comprar os donos de jornais, rádios, televisões, sites e que tais, que evitam falar mal dos administradores públicos para não perderem a boquinha. A propaganda tornou-se a bolsa família dos jornalistas. Só boiam os escândalos inevitáveis ou as falcatruas reveladas por algum cortesão prejudicado em suas negociatas oficiais ou por algum espertalhão araponga que deseja o cargo ocupado por um desafeto. Mas, ao primeiro abano de cédulas de dinheiro, a imprensa cala-se, cúmplice que é dos vendilhões da pátria a outros estelionatários da gangue que expandem-se mais do que bodum em elevador.

Se o governo de Lula não tivesse feito uma campanha mal cheirosa contra a lei de Responsabilidade Fiscal, poderíamos ter esperança que a propaganda pública resumisse-se a campanhas de saúde pública como vacinação em massa, combate a doenças evitáveis, anti-vandalismo e informações de interesse geral como direitos trabalhistas, recadastramento de inativos, censo de pensionistas ou eventuais mudanças de datas de pagamentos de pensões. É inaceitável que se gastem fortunas espalhando propagandas intrinsecamente personalistas ou partidárias de interesse de poucos, informações descartáveis com o puro intento de encher os bolsos dos Dudas Mendonças, Marinhos, Sílvios Santos e Edires da vida submundana.

 

©Marcos Pontes

5 comentários:

  1. Como seria bom viver no Brasil da propaganda, não? Mas, sem ela, como sairiam os 10%,20% ou 30% da taxa de sucesso?As empreiteiras não fazem campanha e nem são generosas com quem coloca freio em sua ganância.
    As palavras de ZD, em 2005, cabem direitinho em seu artigo.Os empresários nunca deixarão JS ganhar eleição porque querem um presidente "frouxo"e por isso votaram, doaram e fizeram campanha para o Lula.
    Eis o Brasil que vivemos.

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  2. O (des)governo petralha ressuscitou a prolifera''cão de esqueletos Brasil afora. O verdadeiro país do cartório, conforme registrou o 9 dedos. Uma vergonha.

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  3. Um mundo virtualizado pelo populismo demagógico , a ilusão vendida facilmente aos incautos, pobre povo brasileiro. @sulains

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  4. Esse é o modelo de corrupção ativa e generalizada adotado pelo PT: A propaganda tornou-se a bolsa família dos jornalistas. Excelente análise, Marcos, parabéns!

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  5. Esse é o modelo de corrupção ativa e generalizada adotado pelo PT: A propaganda tornou-se a bolsa família dos jornalistas. Excelente análise, Marcos, parabéns!

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