Aprendi com o velho Golbery que em política existe um negócio chamado “balão de ensaio”, mas tarde traduzido pelo finado Ziraldo como “lambendo selo. Se colar, colou”. Funciona assim:
Um governo ou um político tem uma idéia, normalmente para ganhar dinheiro, cooptar alguém ou algum grupo, criar novo imposto, enfim, algo que lhe traga algum tipo de lucro, ou ao seu grupo. Daí vai à imprensa ou a algum fofoqueiro em quem ele finge confiar, sabendo que o língua solta espalhará a notícia, e conta sua idéia. No dia seguinte o boato vira notícia, todo mundo comenta aquilo, uns contra, outros defendendo com espada em riste.
Lançada a idéia, seu pai fica quietinho, recolhido em seu gabinete, peneirando as opiniões. A partir da gritaria ele sabe se pode dar continuidade a seus planos e onde deverá fazer as costuras, com quem pode contar e quem não lhe poupará afrontas. Lambeu selo, se colar, colou.
No governo anterior isso era amplamente usado. A área em que mais se via ditos e desditos era nas relações internacionais. O presidente falava uma coisa, Amorim, seu chanceler, falava outra, um oficial do Itamaraty desdizia todo mundo. Eles nunca discutiam, apenas filtravam qual o caminho que deveriam trilhar.
José Nêumane Pinto, em seu livro recém lançado, mostra que Lula fazia o mesmo nos seus tempos de presidente de sindicato. Mandava um companheiro falar no palanque que a greve deveria continuar, em seguida outro diria que a deve deveria ser encerrada. Dependendo da reação da platéia, ele, o último a falar, dono do dinheiro que comprava a todos, subia sabendo que idéia defender e saía como o sabichão da história.
A conversa da hora é o financiamento da Saúde. Padilha, o ministro, diz que são necessários R$ 40 bi anuais para sanear a área. A presidente não diz que haverá ou não novo imposto, apenas diz que não gostaria que isso ocorresse, mas cabe ao parlamento definir de onde viria a verba. Condena uma nova CPMF, mas não uma nova taxa com outro nome. Ideli, a segunda escudeira, aparece sabe-se lá de onde dando como certa a criação de novo imposto. Um parlamentar amiguinho defende a idéia de que o pré-sal financie a saúde, mas logo é desmentido pela Petrobrás e outro ministro (ainda bem, já que o tal pré-sal ainda não mostrou-se algo além de devaneios de um e.t. pernambucano). Não, o dinheiro sairá de uma sobretaxação de cigarros e bebidas alcoólicas. O presidente da Câmara, petistinha recém promovido do baixo clero para cardeal, não sabe para que lado do muro cair, apenas diz que se há de discutir as fontes de financiamento e blá-blá-blá. Há duas semanas Vaccarezza, o nada querido chefe da gang pelos próprios comandados, garantiu que não seria proposta do governo a criação de outro imposto. Não foi bem assim. Disse que o governo não tomaria qualquer iniciativa para que isso ocorresse. Ou seja, se vier, tudo bem, “não foi idéia nossa”.
Nesse disse-me-disse sem fim, ficamos, os idiotas contribuintes, como milho em chapa quente, pulando daqui pra acolá, sabendo que mais vamos estourar, ou melhor, vão nos detonar.
Interessante nisso tudo é que não há discussão sobre a origem dos previstos R$ 122 bilhões para a Copa do Mundo, o equivalente a três anos da dinheirama desejada por Padilha. Se bem que saúde público é para outro público. Quem vai para estádios e Rock’n Rio não precisa de hospitais públicos, apenas de cachaça, ecstasy, camisinha grátis, feijão na mesa, novelas, carnavais e micaretas.
As culturas estão cozinhando nos balões de ensaio, os selos estão sendo lambidos e a presidente, depois de feito o levantamento de que cultura mais produziu ou de qual selo tem mais cola, resolverá que ponta da corda puxará. Independentemente de sua decisão, na outra ponta estará o contribuinte que perderá mais este cabo de guerra, reclamando baixinho nos botecos, fazendo muxoxo e pagando a conta.
©Marcos Pontes
Este novo blog tem mais um seguidor, o Fusca das charges. Se quiser, é só ir lá no http://fuscabrasil.blogspot.com e copiar alguns rabiscos do Fusca.
ResponderExcluirAí vem "outro expert" ou "esperto" e diz que este ano não haverá novo imposto.
ResponderExcluirClaro que não !!! A Constituição proibe a aplicação de qualquer imposto no ano da sua criação.
Por isso, brasileiros, APRONTEM O RABO !!!! O "imposto" já está armado e apontado....