Ater-se a grupos político-partidários, ideológicos, religiosos, étnicos, regionais, de gênero ou de qualquer outra espécie é reduzir a amplitude do próprio universo. Há de se fazer um exercício constante de tolerância para crescer intelectualmente e entender o que nos cerca.
A interatividade não cessa e se impõe e fica velada se as convicções não se permitem serem alteradas. Essa mesquinhez intelectual leva ao desrespeito às diferenças que poderiam conciliar-se em diversos pontos, e à aceitação bovina dos messias que aparecem se não com as soluções dos problemas momentâneos ou crônicos do seu próprio grupo, com as posturas equivocadas, sob sua óptica, de grupos externos e assim, usando do relativismo nocivo, transfere para outrem as dificuldades das resoluções de suas próprias questões.
Pregando a unidade universal lideranças, pseudo-lideranças, intelectuais e intelectualóides induzem seus seguidores a apedrejarem outros agrupamentos enquanto se escondem covardemente no anonimato das internetes ou esbravejam sapiência do alto de seus totens de semideuses.
Os ditos progressistas pregam o fim das fronteiras, mas defendem o nacionalismo; bradam pela unidade latinoamericana, mas combatem a globalização; falam mal do capitalismo, mas enriquecem sem pudores ou, se ainda não conseguiram enriquecer, justificam os meios tortuosos pelos quais muitos dos seus líderes fizeram fortunas; gritam contra a tal “homofobia”, mas esquecem-se propositadamente dos assassinatos de homossexuais pelos seus ancestrais políticos e pelos atuais ditadores coligados médio-orientais; dizem querer o fim da violência urbana, mas não se furtam em defender os narcotraficantes da FARC – aliás, talvez por isso mesmo desejam a descriminalização das drogas, principal fonte de renda dos terroristas colombianos; chamam seus opositores de golpistas, mas não deixam de endeusar seus heróis que deram ou tentaram dar golpes armados no Brasil, Cuba Colômbia, Venezuela, Uruguai, Bolívia, Peru...
O sectarismo não permite perceber em grupos diversos alguma qualidade, o que desautoriza os sectários a defenderem a cosmopolização e o multiculturalismo que defendem, monoculturais que são.
Nego-me a ser imparcial, mas também a me filiar a grupos, o que também pode ser tomado como uma contradição, dado o exposto acima. Como posso defender a interação entre grupos se me posiciono terminantemente contra a esquerda? Ela, a esquerda, nada teria a me ensinar? Se não sou imparcial ou de esquerda, sou de direita, portanto, de um grupo, o que me leva a negar tudo o dantes dito. Minha justificativa é que direita, esquerda e centro não são grupos, mas aglomerados. Cada uma dessas posições comporta incontáveis vertentes.
Desses muitos matizes nascem as discórdias, as polarizações, os embates além das idéias, as agressões, as intolerâncias. Entre os mais intolerantes estão os que exigem a tolerância alheia arrotando sapiência e vomitando superioridade. Aos que proclamam os adversos como intolerantes jogam sua própria intolerância em cima com o propósito de esmagar opiniões contrárias às suas. A tolerância que apregoam, portanto, passa a se apenas máscara, um eufemismo, para o totalitarismo, a unificação de idéias, a confluência de todos os pensamentos para seu próprio pensamento, que nem sequer são seus, mas de seus comandantes. Aliás, eles adoram comandantes, líderes supremos, heróis eternos e intocáveis.
Para o bem da humanidade e para a liberdade das almas humanas a unificação de pensamentos, ideais, ideologias, credos, cores, gostos, gêneros desejos e idéias é tão utópico quanto o próprio comunismo.
©Marcos Pontes
Brilhante! Você foi de uma clareza piedosa, Marcos. Utopias, otimismo em excesso e ideologia levam ao totalitarismo. Texto pra ser lido em escolas, jornais...nas praças. Frase lapidar: "Entre os mais intolerantes estão os que exigem a tolerância alheia arrotando sapiência e vomitando superioridade."
ResponderExcluirQuando Nelson Rodrigues disse: TODA UNANIMIDADE é BURRA, queria, de uma forma lacônica dizer o que, com maestria, você diz aqui, só, faltando dar nomes aos bois. Maravilhosa colocação.
ResponderExcluirSomos reflexo de nossa cultura. Lógico. A busca de um messias, um salvador, um guia, um ser de luz que nos guie para fora das trevas que nós mesmos criamos é um traço indelével de nossas entranhas tupiniquins. Herança portuguesa: _Também esperamos o nosso D. Sebastião voltar da Batalha de Alcácer-Quibir. Um paradoxo amplo e completo, buscamos liberdade na abdicação do arbítrio (Shoppenhauer deve estar se remoendo no túmulo). A verdade é apenas um ponto e por ela passam infinitos caminhos ou retas (como queiram).
ResponderExcluirA questão é que essas lideranças que buscam unificar pensamentos, ações, preferências, etc, encotraram a chave que consegue convencer multidões.
ResponderExcluirFazem as pessoas se sentirem incluídas, apresentam-se como um deles, travestindo-se naquilo que não são.
Entenderam, também, qual é a linguagem que toca, depois é só seguir pelo caminho que lhes interessa que as massas sem identidade seguem atrás.
Quem quiser contrapor a esse modelo de sociedade precisa ter a humildade de buscar uma forma de expressão menos rebuscada, de fácil entendimento, para conseguir transmitir suas ideias e mostrar a existência de novas possibilidades.