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quarta-feira, 28 de maio de 2014

Porquê devemos torcer contra o Brasil na Copa

desvio

Em primeiro lugar, por patriotismo.

À primeira lufada pode parecer contrassenso, justificativa estapafúrdia, mas não o é.

O que foi gasto e o que não o foi, mas mesmo assim desapareceu dos cofres públicos, ou não foi gasto como também não foi arrecadado, a exemplo dos impostos isentos à Fifa, na ordem de R$ 600 milhões, segundo certas estimativas, é uma fortuna que, como vem-se repetindo à exaustão no último ano, poderia ser aplicado na infraestrutura nacional.

Todos dizem, alguns da boca para fora, repetindo como papagaios acéfalos, que a educação precisa de investimentos, a saúde está à míngua, o transporte público é um amontoado consecutivo de câmaras de tortura... E assim o é, de fato.

Os custos da Copa beiram R$ 30 bilhões, em dinheiro desembolsado pelo erário, mas serão ainda maiores se adicionados a isenção de impostos para a Fifa e “colaboradores”, propagandas oficiais, deslocamentos, hospedagem e alimentação do pessoal dos ministérios envolvidos e de caroneiros oficiais, bolsa-Copa para ministros, parlamentares e acompanhantes assistirem aos jogos que quiserem, nas cidades que quiserem, nos dias que quiserem, carros oficiais ou alugados para deslocamentos dessas autoridades e seus apaniguados... Há quem fale em R$ 40 bilhões.

Como comparativo usarei minha cidade como padrão. Eunápolis tem algo em torno de 100 mil habitantes e arrecadação aproximada de R$ 15 milhões mensais. Em média, R$ 150,00/habitante, para que sejam supridas todas as necessidades que, constitucionalmente, o Estado tem que suprir para o funcionamento social. Pouco, mas assim tem sido. Levando-se a mesma média para o país, R$ 30 bi, dariam para suprir as necessidades de cada um dos 200 milhões de brasileiros por um mês inteiro. Ou seja, saúde, educação, transporte, saneamento básico, segurança e o que mais vier poderiam ser gratuitos para todos um mês inteiro. O que também parece pouco, mas basta imaginar que cada um de nós, bebês, crianças, adolescentes, homens e mulheres de meia idade e velhos passaria um mês inteiro sem pagar impostos para que esses serviços nos sejam prestados – enquanto estamos pagando quase 40% do que pagamos em impostos – é uma soma bem considerável.

Se a argumentação acima ainda não foi suficiente, partamos para o apelo político prático.

Se vencermos essa competição, teremos que ouvir a máfia petista e seus camaradas virem a público batendo no peito e justificando toda a roubalheira e maracutais. Usaram da vitória como principal cabo eleitoral nas eleições de outubro. Didi Carabina, nossa presidente, acompanhada de seu dono, o Beócio-Mor, esfregarão na nossa cara o grande bem que fizeram para nossa “imagem internacional”, para auto estima do brasileiro, para o respeito que teremos diante do mundo (como se investidores sérios levassem o desempenho esportivo como fator preponderante para investirem em algum lugar). Uma eventual vitória seria tônico para a arquejante candidatura à reeleição daquela que vem nos afundando nos últimos três anos e meio, seguindo a receita de seu antecessor.

Por outro lado, uma derrota significaria justamente o contrário. Poderiam ser expostos os gastos excessivos, a roubalheira desmedida, os elefantes brancos erguidos com dinheiro público para depois se sucatearem ao relento e as obras prometidas e inacabadas, como trem-bala, metrôs, aeroportos, obras viárias... Além das que vivem nos afligindo, ano após ano, governo após governo.

Ganhar uma Copa apenas para gritar “chupa, Argentina!”, bater no peito gabando-se de sermos o único país hexacampeão, colocar uma sexta estrela no emblema da máfia provada chamada CBF, aumentar o preço do passe e os salários dos já milionários jogadores e técnicos que em momento algum se manifestaram contra o que há de errado no país, é ufanismo, patriotice, não patriotismo.

Nos diz o Aurélio:

“Patriotismo: 1. Amor da pátria; 2. Qualidade de patriota.”

“Patriotice: 1. Mania patriótica. 2. Falso patriotismo.”

“Ufanismo: Atitude, posição ou sentimento dos que, influenciados pelo potencial das riquezas brasileiras, pelas belezas naturais do país etc., dele se vangloriam desmedidamente.”

©Marcos Pontes

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