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domingo, 13 de outubro de 2013

Três Brasis, três educações

sala de aula

Melhorar a educação nacional não se faz por apenas um caminho, como se fazer uma escola não basta um prédio, carteiras, quadro negro e um abnegado a dar aulas. Por outro lado, para melhorar a educação não são necessários tantos teóricos, modismos, correntes filosóficas e ideológicas.

Educação e escola não são uma só coisa, a segunda é um pedaço da primeira.

Educação e instrução também não são a mesma coisa e nem são, cada uma, uma só coisa. Não há só uma educação e apenas uma instrução.

Alguns ditados são repetidos todos os dias, porém nem sempre são compreendidos por não se ter questionamentos pessoais sobre os conceitos que esses ditados abrangem. Por exemplo “educação vem do berço”. O pobres coitados que têm terreno baldio separando as igrejas podem interpretar berço como a caminha do bebê e educação como inteligência, ou seja, quem é gênio o é desde bebê.

Educação que vem do berço é o conjunto de princípios transmitidos pela família desde a primeira infância, o que leva à fácil constatação que existem boa e má educação. Daí também vem a falta de princípios hereditária. Pais mal educados não podem ter bons princípios para transmitir aos filhos. Famílias desagregadas têm apenas metade dos princípios a ser transmitida à prole.

Educação cabe à família, em primeira instância, assim também a instrução. Esta pode ser traduzida em cultura, erudição, conjunto de conhecimentos. Qualquer leitura contém algo de instrução. Não precisa jogar nos peitos de uma criança recém alfabetizada A Divina Comédia ou Os Lusíadas, mas o prazer pela leitura é um bom início. Este prazer vem do exemplo. Se pais leem e conversam sobre o que leram, os filhos tenderão a fazer o mesmo. Aprende-se muito mais lendo do que nos bancos de escola se a leitura é feita por deleite e não por obrigação.

Tudo o que tem nos livros didáticos é dito pelos professores em sala de aula, mas nem tudo o que os professores dizem está nos livros. Os dois se complementam, portanto.

A criança pode adorar tomar banho, mas quando os pais começam a obrigá-lo a banhar-se, hummm, o prazer vai-se embora, o banho parece castigo. Assim com os livros, jornais e revistas.

Algo de novo até aqui? Não creio. Os poucos que me leem de vez em quando são inteligentes e devem estar bocejando com meus lugares-comuns. Vamos então cavucar um pouco mais essa ferida nacional.

Por que algumas escolas formam alunos que ganham olimpíadas internacionais de matemática e física, levam gente para grandes cursos em universidades de renome no exterior, como Harvard, Oxford ou à socialista Sorbonne, ao mesmo tempo em que no todo a qualidade, ou falta de, da educação brasileira está sempre próxima da ponta de baixo dos rankings internacionais? A primeira resposta é simples: porque existem ao menos três Brasis.

Há um Brasil conteudista que segue as escolas tradicionais como foi um dia a Dom Pedro II, do Rio, os Colégios Militares – não umas coisinhas que levam esse nome, mas nada têm a ver com as Forças Armadas – e alguns tantos espalhados nos mais diversos recantos do país, do Piauí ao Rio Grande do Sul. Escolas tão poucas e tão raras de que o brasileiro comum jamais ouviu falar. Não coincidentemente, NENHUMA das 60 melhores é estadual – as públicas colocadas entre essas, são federais. Das 100 melhores, 90 são privadas. Esta avaliação pelo ENEM, uma avaliação pública. Existem outras, como ENADE e Prova Brasil, mas nem são levadas em consideração pelas escola particulares, seja pela baixa exigência das questões, seja pelos critérios de classificação. Por terem plena consciência que as escolas públicas são muito ruins e sem perspectiva de melhora que os executivos da educação pública criaram, por exemplo, olimpíadas de português e matemática apenas para escolas públicas com provas elaboradas pelos mesmos organismos que elaboram e aplicam as olimpíadas abertas há mais de duas décadas. E por que isso? Para nivelar por baixo e dar prêmios à guisa de incentivo para os melhores estudantes entre as piores escolas.

Há um Brasil de faz de conta. A velha história criada não sei por quem (Millôr?) que diz que em nossa educação os professores fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem e as governos fingem que estão satisfeitos. E nesse círculo da fantasia não estão apenas escolas públicas. Há uma enormidade de “métodos de ensino” Brasil a dentro que são fábricas de dinheiro par as empresas que os vendem a escolas “conveniadas”. Não entenda-se que todo o sistema de apostilas ou módulos é ruim. Existem alguns bons, muitos razoáveis e um tanto sem a mínima condição de serem classificados como livros didáticos.

Há dois anos tive em mãos uma apostila de geografia do primeiro ano do ensino médio com mapas da União Soviética atualizados. Piores que as empresas que vendem são os colégios que compram esses crimes encadernados e os empurram a pais ignorantes.

Esse Brasil de faz de conta é regido por pedagogos, cientistas políticos, psicólogos e falsos educadores – aliás, desconfie sempre de um professor que se autodenomina “educador”. Este tipo de profissional sequer questiona-se sobre a origem e o propósito dessa nova classificação profissional. Pegando carona na metodologia do momento como “escola nova”, “construtivismo” e sabe-se lá quantos outros modismos, esses ideólogos da educação montam empresas de consultoria, contratam lobistas, pagam escritores, promovem cursos, seminários, simpósios, corrompem uns aqui, outros ali e fazem fortunas vendendo livros para governos e escolinhas particulares de ponta de rua, como se dizia na Bahia. O resultado? Necessidade de baixar o nível educacional nacional para esconder as pontas puídas deixadas à mostra pela incompetência e pela corrupção.

Existe um Brasil do tô nem aí. O Brasil dos municípios, das prefeituras geridas por espertalhões que nomeiam ignóbeis educadores como secretários de educação e cultura (não poucas vezes também de esporte e lazer), alugam casas de amigos, pintam suas paredes com um quadro preto, enchem o que antes era quarto de dormir com carteiras e colocam uns desesperados por ganha-pão para darem aulas. Denominam esses antros escolas. Este Brasil do tô nem aí é enorme, espalha-se por todos os estados,alimenta um exército de despreparados e deseduca uma multidão de inocentes úteis. Este é o Brasil que mais compromete o Brasilzão. É o Brasil que vive de migalhas e deixa o glacê do bolo para os que fazem da educação discurso e não meta ou prioridade.

Nessa heterogeneidade de Brasis, o primeiro continua e continuará por muito tempo formando comandantes, governantes, capitães de empresas, governadores e presidentes (se não forem reles sindicalistas). Ao segundo Brasil estão reservados os cargos subalternos, os pequenos gerentes, os fiscais de linhas de montagem, os mestres de obras. O terceiro Brasil formará a base social acima apenas daqueles que não tiveram sequer as escolas de faz de conta, os pedreiros, os pintores de meio-fio, os vendedores de botequim.

O estrato social é determinado pela educação que se dá às suas bases e não aos capitalistas louros de olhos azuis.

©Marcos Pontes

Um comentário:

  1. Verdades óbvias sobre esse Brasil do faz de conta. A dificuldade maior é explicar isso às pessoas ditas "intelectualizadas".

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