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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sistema de cotas e Síndrome de Down

Kalil

Foto de arquivo pessoal, divulgada pelo Terra

O papo agora é chamar de guerreira qualquer pessoa que encara seus desafios diários para pagar suas contas, trabalhar, cuidar da família, encarar expedientes rígidos e se virar daqui e dali para ter um mínimo de dignidade. Ora, pois, não somos todos guerreiros, então?

Tá, nem todos encaramos as mesmas batalhas diárias, mas generalizar a terminologia é, antes de tudo, contrariar o dicionário. Diz o Aulete:

Guerreiro: 1 Ref. a guerra 2 Belicoso, beligerante

A vida não é uma guerra e viver, portanto, não é guerrear, é viver, simplesmente. Diz o ditado popular: “Cada qual tem sua cruz para carregar”, o que também é um exagero, mas que nos coloca na condição de trabalhadores, não de lutadores. Que vantagem se tem em viver brigando contra a própria vida e o que nós mesmos nos reservamos em obrigações e metas?

As mulheres têm sido as mais premiadas com este adjetivo. Desde tempos imemoriais elas são as mulas de carga da sociedade. Cuidam da casa, do marido – quando este não foge com a cachaça ou com a puta da esquina -, dos filhos e de equilibrar as finanças. Não satisfeita, saiu de casa para aumentar a renda, e solidificou, com ou sem carteira assinada, sua tripla jornada diária. Multifuncional, ainda arruma tempo para o cabeleireiro, a novela e o bate papo com as amigas. Só elas são capazes disso, já que seu cérebro está preparado para executar diversas funções simultaneamente, algo impensável para nós, bitolados homens.

Independentemente do gênero, a maior parte das funções diárias que executamos são impostas por nós mesmos, seja de olho numa promoção, nas férias na praia nordestina ou na TV de LED. E, como nada é de graça, “nem o pão, nem a cachaça, como cantou Zeca Baleiro, precisamos suar a camisa para adquirirmos o que aspiramos, a despeito de nossa preguiça indígena misturada com nossa inoperância portuguesa.

Mas eis que aparecem administradores que põem em nossos cérebros pouco usados que somos “vítimas do sistema”, “órfãos do capitalismo” e precisamos do “resgate histórico” para que a história se desculpe conosco por nos fazer trabalhar.

Aliás, nossa preguiça é tão amplamente disseminada culturalmente que chamamos o trabalho de batalha, guerra e outros adjetivos menos alvissareiros. Até diferenciamos trabalho de emprego, como se o primeiro fosse um castigo e o segundo uma maneira de ganhar a vida sem maior esforço.

E os preguiçosos profissionais deitam e rolam. Institucionalizando a lei do menor esforço, criam cotas, cargos comissionados, terceirização de funções públicas, taxas de sucesso... Mas eis que um brasileirinho bravo, sem cota ou correção diferenciada de suas avaliações vestibulares consegue aprovação na Universidade Federal de Goiás, curso de Geografia. Nada de mais se Kalil Assis Tavares não tivesse Síndrome de Down.

Nem o próprio Kalil, a despeito de sua invejável conquista, pode ser chamado de guerreiro, mas de um cidadão que ascende socialmente por seus méritos e investimentos de sua família.

E aí, o que me dizem os “guerreiros” negros, deficientes físicos, índios e que tais que vangloriam-se do sistema de cotas como sendo uma medida de “justiça social”, como se cada membro da sociedade que paga seus impostos, “guerreia” diariamente em busca do melhor para si e sua família e se esforça por um futuro melhor para si, para os seus e, consequentemente, pelo país – que um dia haverá de tornar-se uma pátria – fosse um algoz que merece ser usurpado de suas prerrogativas de igualdade?

 

©Marcos Pontes

7 comentários:

  1. Os "cotistas" que exigem as referidas cotas, nada mais são que VAGABUNDOS, PREGUIÇOSOS, INDOLENTES. Realmente, a maioria do povo brasileiro tem uma origem digamos "peculiar": De um lado a preguiça indígena e, do outro a bandidagem dos degredados enviados por D.João, antes de sua fuga para o Brasil, com medo de Napoleão!

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  2. CARO MARCOS

    TODOS FAZEM TUDO NOS TRÊS PODERES DA REPÚBLICA PORQUE ABANDONAMOS NOSSO PAPEL DE CIDADÃO: FISCALIZANDO E AGINDO. ENTÃO FORAM COMENDO, COMENDO ANO APÓS ANO ENQUANTO CALADOS PAGÁVAMOS, PAGÁVAMOS!!!
    AGORA NÃO MAIS QUEREMOS ESTA FARRA POR ISSO DEVEMOS TROCAR O KIT PALHAÇO PELO KIT DECÊNCIA !!!

    Marisa Cruz

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  3. Premiar incompetentes e/ou preguiçosos é muito da prática dessa corja. Eles mesmos grandes beneficiados da indolência e acomodação de nosso povo.

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  4. Bom texto, caro Marcos.
    Primeiramente, as pessoas que aceitam cotas estão cometendo preconceito contra elas mesmas. Sinceramente. Tais pessoas não devem nem condenar alguém por racismo, pois elas mesmas fazem isso consigo mesmas, no momento em que aceitam as cotas em tudo o que é lugar. Ora bolas, cota nada mais é que a segregação de um grupo de pessoas, pois tais pessoas não tem capacidade de conseguir algo sozinhas, precisam de uma lei para garantir vagas a eles, mesmo que não mereçam. Isto é o que penso. Esses politicamente corretos de meia tigela defendem "cotas raciais" e outros tipos e ainda discutem pesadamente com aqueles que acusam de cometer pre-conceito. Isso é o cúmulo da ignorância, em minha humilde e simplória opinião.

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  5. Sem criar polêmica, deixo aqui registrado o meu apreço pela tua explanação do assunto. Fiz Universidade pública há mais de 30 anos, apesar de filha de bancário e de professora, fui a única na família a frequentar exclusivamente escola pública, sendo nascida na capital, ter acesso a livros, cinema, teatro e diversas formas de cultura e ter a possibilidade de frequentar um dos melhores cursinhos pré-vestibular, entrei com 18 anos no meu curso superior. Não tendo feito escola particular porque não quis estudar em escola confessional a exemplo de meus irmãos. Até aí nada de mais, afinal sempre fui burguesa,e hoje sería beneficiada pelas cotas, desnecessária por que entraria sem elas. Hoje trabalho na mesma Universidade que me formei. Na época de estudante poderíamos dividir o ingresso em tres turmas distintas, aqueles que como eu advinham de familias classe média, aqueles que advinham de famílias ricas e aqueles que advinham de famílias carentes. Hoje com as cotas observo que os alunos são provenientes de duas classes sociais predominantes na Universidade, os de famílias de alto poder aquisitivo e os cotistas, estes nem sempre advém de famílias carentes, alguns deles vem de famílias que desinteressadamente os colocaram em escolas publicas. Sinto falta, dos alunos oriundos da classe média. Esta foi aniquilada pelas cotas, a não ser aquelas as quais os pais por opção não investiram na educação de seus filhos.

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    1. Interessante, pelo texto observamos que é negra e burguesa (?? - depois informou classe média) e sente falta da classe média na faculdade. Não entendo porque fez cursinho pré-vestibular (uns dos melhores, talvez o mais caro). Será que o ensino público não seria suficiente para o ingresso na faculdade? Tendo o poder aquisitivo de cursar uma escola/faculd. particular, pq não o fez? Muitos cotistas não tem condições de fazer cursinho para competir no vestibular com quem frequentou os estudos com regalia. Mtos com condições querem fazer cursos em escolas públicas. Pq não deixam para os que não tem condições financeiras. Não precisa ter cotas, mas acesso aos que não tem condições de pagar uma escola/faculd. particular. Assim, não sentirás falta daqueles oriundos da classe média.

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  6. Marcos, parabéns pelo texto. E sempre seremos pela meritocracia. Salve, mestre!

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